mais preguiçosa do que eu gostaria
mais leve do que eu imaginava

quase sempre sem sono
errando a mão nas doses de café

com apetite dia e noite
vagabundeando pelas tardes
encarando (aceito, me rendo) é 
assim que tem se dado o meu processo então
é nesse ritmo mesmo que eu vou levar,

vou me levando

não sou boa de matemática
e quando me dou conta
o dia acabou
chegou a lua
mudou a estação
e eu quase sempre esqueço o casaquinho


seu nome:

sempre em algum letreiro, livro, calçada
por aí, esbarro.
no canto da boca de alguém
no menino que corre na praça brincando com a Amora

seu nome, presença
coisa antiga

manso
morno
nítido

vai,vem
13 abril 17








é com pesar que digo
que passo correndo pelas coisas
é com pesar que sinto-escuto 
“não tenho tempo” “deixei passar”  “tá corrido
é no peso da exaustão que vivo-vivemos
e já digo nós, afirmando ser esse um modo de vida que não é meu, 
que diz respeito a nós, ao que nos é exigido, onde nos colocamos-estamos, 
somos e vamos sendo

pois bem, eu escrevo do meu celular e tenho pouco tempo pra escrever
uma imagem salta da minha memória: e nesse mesmo espaço de tempo dou 
a famosa cotidiana googada de cada dia, encontro a tal da imagem pra vocês:
fuck the clock, diz a bela t-shirt da patti smith





escrevo sem pensar e como não é possivel não pensar escrevo pra estar junto e pra me sentir pertencendo - tema esse que me fez chorar por dentro nessas raras conversas olho no olho que temos com algumas amigas dispostas a nos ver, de fato

a amiga no caso, josefa
nessa ultima sexta feira
no bar, raridade
tao grandiosa
estar no bar, 
pra mim

estar junto, pertencer.

o tema era esse.

a raridade é que sou mãe de duas meninas. não é raro ser mãe, raro mesmo é sentar num bar depois de ser.

daí que eu queria dar um alô 
e dizer que também foi importante
estar junto domingo

que estou lendo “um teto todo seu” da v.woolf,
livro que a gabi comentou na reunião
que o “teoria king kong” me arrebatou
que um monte de nos tá com ele nas mochilas

que no fundo tudo o que é bom mesmo é estar perto.

potência femenina, energía feminina, sei lá. essa coisa toda, perdoe meu misticismo, 
que eu sinto, tu sentes, ela sente: nós sentimos.

que sentei a bunda pela primeira vez no ateliê depois de tempos, pensei em vocês e cá estou eu escrevendo sem parar para um destinatário: sensutiã.

que fiz uma colagem que me lembrou a outra gabi, a talma, a bete.

é a real é que se eu pudesse eu passaria as tardes que tenho livre com vocês 
conversando que nem fizemos aquela manhã

não deixa de ser um convite
quero estar perto
(mesmo)
ouvindo, olhando.

sabendo o que vocês estão lendo, o que estão te fazendo chorar, rir. 
como tem sido os dias, os finais de semana

um beijo e um pouco de mim, hoje.
















as coisas que me dão medo
eu sonho
as coisas que me excitam
eu sonho
minha barriga conversa comigo
dessa vez não há um bebê
há o futuro total
você
que é grande
me abraça enquanto eu durmo?
a chuva
que não cessa a casa que não acaba a conta que não fecha a luz que não volta
já voltou?

fica

minha vontade
minha preguiça
suas mãos 
27 janeiro 

















a tontura 
que me é cia
seja pela falta de pão
pelo desassosego da noite quente
da lua que invade
da maresia que insiste da cerveja gelada e minha falta de modos com o álcool

a tontura 
que me é cia
que me tira o juízo me faz insistente numa tentativa de arma gatilho golpe flecha alvo 
pontaria incerta de quem nasceu tonta

a tontura 
que me é cia
me faz coceguinhas depois do almoço
é o tal soco de realidade 








a tontura 
que me é cia
faz-de-conta que palavras são gestos 
que beijos na boca são sempre bem vindos
que do amor faz-me fome, que da sede me molha inteirinha em nome de uma certa mudança universal 

a tontura 
que me é cia
me atira e me protege
me faz inocente e cega
me causa enjôos melancolia e brota filhos na minha barriga 

a tontura 
quer falar de amor , 
mas chora mansinho 
quando pensa na palavra 
ternura
jan 2017




 



não rubi não tira o chapéu guto olha aqui a foto amora sem jogar agua no olho da rubi ai tá afundando caramba ela gosta amora segura no seu pai ele tá com as duas é fundo tá sol passou protetor?, férias
10 janeiro 







2017 a fralda G ficou pequena os pés se apertam nos sapatos o vestido virou regata o tempo simbólico tão físico nos seus pequenos já grandes corpinhos, aquela foto do ano passado que diferença! são as mesmas? -não. não são. as mesmas. as frases elaboradas os pés que andam com desenvoltura na areia, as já (!!) brincadeiras de médico e o , -mamãe, quero ficar sozinha, (eu também quero) novas leituras, novos interesses, voltar a ser um corpo só - isso é possível? repeti a torto e a direito aos amigos que amo, na terapia, nos sonhos "2017,  o ano em que eu vou olhar pra mim" ah! inocente que sou, esquecendo dos espelhos, das sombras e luzes, do mistério que envolve essa relação: mãe, filha. filha, mãe. ovo, galinha. te olho, me vejo. me olha, me sente. o vasto mundo, grãozinho. morrer pra germinar. aceita.
07 de janeiro 









pediram que a gente ficasse vinte minutos em silêncio, de olhos fechados. no começo veio aquele incômodo da sala quente, do calor, do corpo que não quer parar, da dificuldade mesmo de se manter em silêncio. depois veio o barulho dos carros e motos que passavam lá embaixo, o blá-blá-blá do pessoal da rua. depois fui tomada por  umas imagens na minha cabeça, densas, grandes, fortes. amora pequena, falante. rubi sedutora, olhos e boca. e eu não saí nunca mais dessas imagens. vieram muitas, muitos momentos, quase todos reais. lagriminhas escorreram e eu desacreditei que nem em vinte minutos de silêncio elas me deixam em paz. eu agradeci sabe? a vida, pela abundância, intensidade e esse amor que sei lá, nossa, me afoga e me salva de qualquer e todo naufrágio. foi louco começar assim.







mãe, essa espuma sou eu dentro da sua barriga pra sempre
2017, valendo.
05 janeiro  







1.1.17 00:00
taças s braços se levantam
beijos se somam
sete ondas se multiplicam desejos
estrelas nascem
nós silêncio
guardiões de sonho de meninas
 o3 de janeiro
     



 


dia das crianças: cavalinho besta derrubou menina que caiu e apagou deu susto nos adultos e logo voltou rolou cobrança de presente já tão cedo e livraria que vende livro mais metade da estante é de brinquedo mamãe gostei do playmobil que nota que grana que susto papai era o que eu gostava também quando era neném e a grana voou rolou também teatro de rua cia são jorge valeu haddad! depois show do fera com direito a uma perdidinha de criança por alguns instantes suficientes pra eu quase-quase do coração morrer. pô, mamãe, tava no camarim.
:vale a pena, sim. 
12 outubro 









#cortacola











































vou continuar sem censura
te invadindo
pelas linhas de acesso

patti smith no som de casa me lembrando
algumas cenas de anos atrás
na parede do corredor eu e você
existimos

como medir
o tempo
das coisas

o cohen morreu e a gente nem tocou no assunto
quando eu sozinha numa noite disponivel
me toco

você
tanta coisa ainda insistente
insistindo

em mim,
aqui

dentro, sinto
muito
22 nov 2016

        






era último dia do master chef,e não, eu não queria perder, mas além de tudo não, ainda não tava preparada para subir de cargo na matéria do amor e ser aniquilada pela presença de mais um ser arrebatador eu achava que não ia aguentar o tranco "me segura que eu vou ter um troço"e fui literalmente empurrando com a barriga o que poderia ser o que viria ser o que é esse choque altamente mil volts mil voltar em torno do sol que é ser mãe de você Rubi. é você, veio, furacão. e tudo leve, pluma, pousa. tua presença pelos 7 buracos. você saiu pelas pernas e parece que sempre esteve aqui entre nós/sou. nada mais foi igual. e tudo foi completo.nossa rubi tuesday que chegou numa terça anunciada pela canção dos stones. um ano atrás, dia 15. 5:55. cabalística. virgem com virgem. altamente apertavel, sedutora, penetrante. o meu amor. a minha caçula. a me ensinar que nessa conta do coração, tudo cabe.
15 de setembro 2016 9h00





03 jun
sexta-feira 09h26m 

a água quente acabou.
o chuveiro quebrou.
restou o velho e bom banho de canequinha.
 

esquentamos juntas as panelas, enquanto a rubi dormia no colo do pai.
amora quis saber sobre a história do banho de caneca, e achou graça em imaginar a bisa tomando banho de canequinha quando criança.
 

o processo da agua esquentar, de cair na cabeça pela caneca e escorrer pelo corpo, a levou para um outro tempo de banho, mais devagar, silencioso, concentrado.
 

até se dar conta pela primeira vez de uma foto pendurada no banheiro.

"quem é esse mãe?"


é o john lennon. 

( tive que me conter para esse momento especial - john lennon, minha filha. minha filha, john lennon. prazer. quanto prazer. )

sabendo agora, do meu apreço por ele, ela quis ouvir suas músicas.

colocamos no youtube, entre a blusa de frio e a meia
ela balançou o corpo e perguntou o que significava aquela canção.

"tudo o que a gente precisa é amor, filha".

silenciamos e deixamos a música nos contaminar.


e então ela quis saber como se falava amor em inglês.

love

repete?

love

ficou ecoando no banheiro.
 

uma, duas, três, quatro vezes.

deu risada da palavra nova.

cantamos juntas pela segunda vez.

me abraçou, entre o moletom e a galocha sendo colocada,
perguntou se ele era pai.

disse que sim! e que tinha uma música que ele fez pro filho dele.
vimos o vídeo juntas, ainda no banheiro. e terminamos esse banho gostoso com ela me dizendo: 


" como ele é bonitinho mãe.
será que eles vão gostar de mim?"





em tempos tão difícieis, o amor. tudo que a gente precisa.










amora, vc fez 03 anos!
























15 de maio 2016
você dorme, eu te espero com um bb no colo. três anos. e já somos tão diferentes dos dois, quando éramos duas. seu aniversário, e meu maior presente é esse: você no mundo. extensões de amor. suas pequenas e grandes descobertas. acorda devagarinho , amor(a) - que o inédito acontece: agora eu acordo antes de você. e tenho no colo sua irmã, um presente pra sua vida, pedaços seus espalhados por aí pra sempre. que te lembrará quem você é, de onde veio, quando o bicho pegar. quando vc precisar de referência. de espelho. de luz e sombra.






    11 de maio

tem dia, ou melhor, algum momento do dia, que é um desafio treinar a paciência. a minha, no caso. normalmente quando envolve falta de sono e fome - ou seja , as necessidades mais básicas de qualquer ser vivo. tem dia, ou algum momento do dia, que as duas choram e é preciso "escolher" pra quem dar colo naquele momento. dar colo pra uma e acalmar a outra com os olhos, com as mãos que sobram, com o coração que nunca se divide, mas parece que não, assim não tá bom, porque o que elas querem mesmo naquele momento de crise é uma mãe só pra elas. é impossível . quando acontece essa aparente divisão e escolha, eu me frustro. em não ser duas, em não ter quatro braços. mas dizem que a vida é perfeita como é. e depois de um tempo, passado o furacão, eu costumo acreditar. perfeito é aquilo que é real, e o que temos nas nossas mãos. o que temos pra hoje. pra hoje temos bolacha de leite pra quem já come, temos peito pra quem não come. e quando o bebê dormir depois de mamar, temos uma mãe pra cantar o cd novo que compramos juntas. e uma mãe que chora também, se frustra, sapateia e dá risada depois. uma mãe que antes de ser mãe é mulher já foi menina já foi criança já foi bebê e transita por todos esses lugares num só instante. tamo junto, tudo no mesmo barco.










queridas X, Y e Z,

 Vontade de escrever para alguém, vontade de escrever pra vocês. Não sei se esse é o lugar ideal, mas sinto que é o grupo ideal para dizer como me sinto, agora. Sinto que tenho ativado um modo de vida de cuidado comigo mesma, desde que as meninas nasceram, muito ligado ao funcional , eficiente e prático. Como me visto, o que eu como, os lugares que frequento, as pessoas que convivo, tudo passa por esse filtro. Sendo mais detalhada: meu guarda roupa atende a demanda do mamar. O que eu como atende a demanda de uma comida rápida e que nutre pois não sei se dará pra fazer a próxima refeição, então é melhor me garantir ( e não necessariamente o que estou com vontade de comer agora) . Acordo na hora que elas acordam e durmo na hora que elas dormem. Tomo banho enquanto elas tomam e quando dá. Meu organismo passou a funcionar na madrugada ( sim, acordo pra fazer cocô, talvez porque seja a hora que a casa está silenciosa e sinto que posso relaxar ) ... Imagino que isso causa identificação a muitas de vocês, sei também que é uma fase que passamos com bebês pequenos e não desvalorizo a beleza que enxergo de um corpo que cuida e se entrega com devoção ao cuidado de outro corpo. A ficha que me caiu esses dias é o quanto estou no modo operacional das coisas, e o quanto isso me afasta dos prazeres, dos respiros, de ser. Acho que aqui estou falando de liberdade. De escolhas. De pequenas mudanças que posso fazer, pra desatar muitos nós. De empoderamento. Ainda não tá claro pra mim, mas sinto que depende exclusivamente de mim, a mudança. De como é difícil largar o osso dos cuidados o tempo todo, e o quanto esse osso pode ser duro de roer, dessa forma. Estou falando de poder e decisões. E também de solidão.
30 de abril 18h40m









 

A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença

Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
(Amora e Rubi )



 



perdemos o bloco


           achamos o bloco














Na saída de casa, à caminho de um encontro com mulheres que participo, um momento exclusivo de escuta, aprendizado e troca, Amora me aborda na porta, com olhos cheios de lágrimas dizendo: "- eu quero ir com vocês. Por favor. Deixa eu ir" . Eu te desafio, a vida me disse. É assim que eu tenho encarado . Esse encontro é meu, meu momento. Essa filha é minha, e me pede com muita sinceridade pra ir. Já tenho um bb pendurado na mochila. Tenho mãos livres? Tenho. Eu sei o quanto é desafiador estar presente com outras pessoas na escuta e na troca, tendo duas crianças pequenas pra olhar, que demandam atenção . Eu poderia deixar ela chorando, sim. Mas pra mim, naquele momento, a vida me desafiou a integrar tudo. A minha necessidade ( estar no curso ) e a minha outra necessidade urgente ( acolher Amora ) . E lá fomos nós. O exercício em mim foi o de segurar expectativas sobre se eu conseguiria participar ativamente da reunião, como se estivesse sozinha. Porque eu não estava sozinha. E que riqueza não estar mais sozinha. Nunca. Poderia ser um inferno ( sim, às vezes, é ) mas pode ser maravilhoso, pode ser recompensador, pode ser uma lição e tanto: de amor, de jogo de cintura, de paciência, de vínculo. E quando eu penso que elas estão crescendo , sei que cresço junto. E que apesar do sono, do cansaço, de tanta coisa que é esse pacote materno, vibro sabendo que é o meu melhor momento da vida. Antecipo as saudades. Procuro aproveitar ao máximo. Vai passar. E as marcas desses dias e anos estarão pra sempre nos nossos corpos. Essa tem sido a minha revolução diária: pequenininha, formigueira e sem pausa. ( a foto é da Jô, grande mulher é amiga, que me deu de presente nesse dia, me mostrando que é possível integrar o que se ama ) . Dedico esse post a todas as mulheres-mães: de um, de dois, de três, que perfumam meu caminho, com tanta delicadeza e força com seus rebentos no colo, que me faz acreditar que se a gente vive o presente, o futuro há de ser bom.
04 de fevereiro, 12h30




estar só com as duas é amor é frio na barriga é achar que não dá conta é dar conta é dar risada é treinar paciência escuta atenção e presença - mas principalmente morrer de amor pela carinha da Amora perguntando quando o papai volta. 26 jan 2016 ter, 09h10m


 

 já se passaram 04 meses de Rubi e 02 anos e 08 meses de Amora, e isso de ser mãe é ainda um mistério. uma caminhada sem fim. uma missão. um perrengue inacreditável. um eterno "se fuder no paraíso". um vício. um estar no mundo com corações fora do peito. é dormir com uma, pensando na outra. é ser amante e se manter apaixonada pra sempre, daquele troço que dói no peito, faz flutuar e faz a gente esquecer da gente, escrever uns clichês com a certeza absoluta que não tem amor mais forte que esse que brota da gente quando essas criaturas nascem. e vc ganha o título de mãe sem nem ter idéia do que isso significa. e passa-tempo e você continua não tendo idéia, mas vai sendo mãe, sendo filha, sendo o que dá pra ser. porque é no dia a dia, nas noites sem dormir, nos silêncios pós conflito entre irmãos e nas dúvidas do que fazer, como agir, que nascem as respostas, mas principalmente as perguntas todas. e é perfeito do jeito que é. porque tem o ideal mas a gente é real, ainda bem. dos erros surge um abraço, um beijo, uma possibilidade de aproximação e crescimento. obrigada filhas. por me permitirem ser tão frágil, tão insegura, tão nua. tão menina e ao mesmo tempo a mãe. de vocês. todo dia toda hora todo minuto da minha vida .. e terminar os dias, todos os dias, rubricando "todas as cartas de amor são rídiculas", mas a gente vai continuar escrevendo. 24 jan 2016 dom, 09h18m



começou 2016 meu amor cresceu 03 meses completou






verão, 2016 barra do una, litoral

calor, muito é bom. acabei de acordar. rubi não consegue dormir e vim pra praia com ela. e em algum lugar, meu coração ficou na cama em que a amora dormia. tive vontade de escrever antes, mas o sítio em que fomos pássaro o ano-novo com os amigos-amores, não tinha sinal adequado. foi um fim-começo de ano muito louco, com direito a lareira na noite, cobertor, lama e frio nos pés mesmo com meias. essa esquisitice térmica mexeu comigo e me colocou dentro daquilo que chamam de puerpério, talvez pela primeira vez nessa segunda gestação. perto de todos os meus amores escolhidos, eu me senti extremamente solitária. eu e elas. um mundo onde parece não caber ninguém. a não ser aqueles que compartilham da mesma experiência, dessa louca jornada que é maternar.  acho que você irá me entender. as férias despertam na gente o desejo de fazer, enfim, só o que a gente quer, acordar a hora que quer e comer o que quiser. existe uma licença poética pras indulgências todas. mas pra mãe recente não. o bebê exige 110% dedicação total à você.

essa foi uma onda que subia e descia. e ao mesmo tempo eu celebro esse momento ( tão fullgás), porque sei o valor que ele tem. e agora, com a Amora maior, sei que as coisas passam, que eles enfim, dormem, alcançam autonomia, crescem e vão pro mundo. só não sei ainda o que resta muito de mim dessa experiência toda. me senti novamente recolhendo os caquinhos de mim pela cozinha, com peças sem encaixe.

agora aqui na barra do una a paisagem é outra e sentimentos também. sol, céu azul, mar,
conforto, patronagem. meu sogro alugou uma casa sonho, com piscina e ar condicionado. estou entre queridos. tenho um amor profundo pela minha sogra, de mulher pra mulher. temos um pacto silencioso, nas trocas de olhares, nos gestos. é bem forte pra nós duas. tem a minha cunhada e sua mulher, minhas irmãs, antes mesmo da minha relação com o guto. estou na mesma casa onde passei meu primeiro verão com a amora. verão onde eu redescobri o Refavela do Gil, e dancei todos os dias pra amora dormir, Sandra. 
voltar, depois de dois anos, com Rubi no colo - me encheu de lágrimas e amor. a vida corre. caralho.

e aqui na praia, luto com meus demônios da vaidade, desse corpo que passou por duas gestações, que há muito tempo não pratica uma atividade física. celebro toda a força que ele tem, mas falta-me força pra celebrar as marcas que ele   ganhou diante de tantas conquistas. a dedicação, as noites mal dormidas, a falta de sexo. aqui, nesse ponto, praticamente neva. o momento pós parto foi explosivo, talvez por essa força do nascimento. mas a força do cuidado do dia a dia, me leva toda e qualquer energia ( apesar de me sentir muito energizada com elas, complexo) . tenho fugido dele. é muito sutil, mas só me dei conta disso agora, escrevendo  falei muito, e fiquei um pouco envergonhada de tanto que escrevi.








 a bagunça nossa de cada dia, amém
26 dez 2015







 

tem dia que parece que a gente não vai dar conta, e quando parece que vai morrer, re-nasce. quando a Amora era bebê, eu aprendi a reverenciar todas as mães. andava nas ruas e pensava, "como pode ter tanta mãe no mundo?" ou "como ninguém me avisou que era assim, tão-tão..." . daí fomos aprendendo, a ser mãe, a ser filha, a viver sendo uma em duas, e a medida que ela foi crescendo sendo união na separação. aí quando tava parecendo que ficou fácil, a gente muda de fase. bebê na barriga. Rubi a caminho. nível hard. e agora tô aqui, reverenciando todas as mães que tem dois filhos. ou "como ninguém me avisou que seria tão-tão.." e enquanto Rubi dorme, a gente aproveita uns instantes a sós, pra lembrar como era - como foi. 09 dez 2015



quando resolvemos ter um novo bebê, além de motivos que não se explicam facilmente,  nem tudo tem resposta, que bom! , uma das coisas que me passavam pela cabeça era: seria legal a Amora ter um irmão, é tanto amor por uma pessoa só que, - socorro, precisa circular, expandir. seria legal ela ter uma cia, uma parceria de sangue, que a gente ama e odeia, que é aquilo tudo tão forte que só quem tem irmão sabe... seria legal pra Amora blablablá, e eu fui criando mil motivos- mas meu foco estava sempre nela, na filha única que passaria ser a mais velha. então engravidei. muito amor e alguns medos me acompanharam, e um deles era: " - como amar alguém, assim como amo a Amora? impossível". sim, é impossível. descobri na prática que não se ama igual, como dizem por aí. o amor que tem se construído por cada uma é muito distinto - assim como elas, tão diferentes. pois bem, não se ama igual mas se ama muito (MUITO) , de um jeito muito grande e pessoal (!) - cada uma desperta em mim diferentes sensações, cores, sabores. e apesar do trabalho danado, vale a pena. ou melhor, faz tudo valer a pena. traz sentido até aquilo que não faz sentido - essa vida, misteriosa. 09 nov 2015






(chega mais, amor) - é incrível essa dinâmica de ser inteira, pra duas. quando já é missão impossível ser inteira pra gente mesmo. então o jeito é apertar um pouco aqui, esticar dali e principalmente relaxar, porque perfeição, nem em conto de fadas. a gente faz o que pode. procura dar risada entre uma ginástica e outra. e dormir, quando é possível. 06 nov 2015






hoje eu não consegui sair de casa. primeiro porque eu sou recém-mãe de uma recém-menina de 45 dias, e, quando estou sozinha com duas, qualquer voltinha se torna uma volta complexa . segundo porque eu fui tomada pela quantidade de vídeos imagens textos maravilhosos sobre o acontecimento que foi o fim do dia de ontem. eu consegui ter tempo pra ver tudo isso ( e ainda ouvir muita banda punk de meninas) , porque uma mulher me ajudou nessa tarde : Julieta, minha sogra - levando minha filha mais velha pra visitar outra mulher linda : a Marfisa, a bisa. eu consegui participar da festa ontem, porque mais uma vez contei com os braços-apoio de uma outra mulher: a Lia (foto) . e lá eu encontrei a Helena que segurou minha mochila, a Vero que carregou a agua de coco da Amora, a Mariza que cobriu a Rubi pra ela não passar frio. Encontrei a Josefa, que perguntou se eu precisava de ajuda, a Maíra que fez um ventinho na gente. ganhamos sorrisos, pipoca. aplaudimos e fomos aplaudidas. senti uma corrente louca, como eu sinto em rodas pequenas de melhores amigas. mas lá, éramos várias. éramos muitas. e eu me apaixonei por tantas. fomos cúmplices essa semana dos nossos segredos. e do virtual pro real, misturadas, nos reconhecemos. descobrimos a beleza da voz feminina em coro, protagonista na avenida. na volta pra casa, com as duas meninas dormindo no táxi, sem chaves e um prédio sem elevador, me desesperei. mas, contei com a ajuda de mais uma mulher: a querida Lora, a zeladora. ela, que trabalha um monte pra deixar o prédio sempre limpo, me esperou na porta (como as mães antigamente esperavam) - pra subir as escadas com a Amora no colo, falando baixinho, pra não acordá-la. por fim, quando eu deitei na cama, recebo uma mensagem da Marina, grávida da Rosa, querendo saber se eu havia chegado bem. tá ligado no que eu estou falando? mexeu com uma, mexeu com todas.
02 nov 2015






pra você,

meu remetente é sempre 
você
estou há quase dois anos e meio apertanto a mesma tecla desse piano, ano, dois anos, pi pi pi ano do ré mi fá sol e ela chora enquanto escrevo não não vou pegar no colo vou pegar peguei


leite água sangue
leite água sangue

cabeça ombro joelho e pé joelho e pé

eu não peguei
ela continua
eu não quero ouvir
mas escuto o piano sinfonia de todo dia 
o sol levanta e a gente

o sol de todo dia

gritou
sinal que precisa de mim

ela grita ela mulher
escandalosa

eu, odalisca de mim mesma
não é minha mãe
é meu pai

meu pai, terra distante, terra farta, terra cheia de erotismo

não é minha mãe
é meu pai

é o
homem

onde eu quero chegar

é
o
homem

hí-men .
terça - 13 outubro, 16h50







- daqui, desse ínicio de mundo. recém-nascida segurando outra recém-nascida. menos de um mês de um nascimento à jato. de vida escorrendo pelas pernas. ali, bem no meio da minha sala, no meio de mim, Rubi. Tuesday. daqui da madrugada. no embalo da noite, bebe bebê. leite, água, sangue. leite, água, sangue. Elza. A Mulher. Fim Do Mundo. o fim, o meio,
o início. o leite. a água. o sangue. eu embalo. elza me embala. embalamos. ("embala eu embala eu, menininha do Gantois. embala pra lá, embala pra cá, menininha do Gantois.vira os olhos grandes de cima de mim pras ondas do mar") escorre. leite. água. sangue.
06 outubro, 7h55

04 dias após o parto - o segundo filho traz a leveza e o respiro, o aproveitar as horas de sono pra dormir e não pra ver se o bebê está mesmo respirando. saber que apoio é tudo na vida, e um prato de comida saudável também. que não faz mal brindar com um copo de cerveja na mão horas após o parto. que a vida é sempre intensa, mas não precisa ser dura. que visitas são muito bem-vindas, pra entreter a mais velha. que o seu primeiro fruto, de repente amadurece. amora madura. e o amor pode ser ainda mais forte. dormir com um bichinho colado no peito e acordar morrendo de saudade de uma bebezona grande que já dorme no seu próprio quarto. tomar café da manhã só com ela, mesmo cheia de olheiras e cansaço - é um bálsamo pro coração de uma mãe recente de duas. eu não sou uma nova mãe, mas entendi com a segunda gravidez que agora são duas - e isso faz tudo ser diferente. que a rede é grande e cabe sempre mais um. que quem não tem leite, caça com chocolate. e devagarzinho, com jeitinho e também errando, a gente encontra o nosso jeito. driblando culpa, choro, puerpério, pesadelo, sono, incertezas - sabendo que o que importa mesmo é a caminhada. o pé de trás passa pra frente. o pé da frente passa pra trás. e a gente vai andando e vai cantando a canção. e a gente vai andando e vai cantando a canção.

19 setembro,  08h40 


na dor de não ser mais a única e na felicidade de ter alguém que se banhou na mesma água, que veio ao mundo pelo mesmo mar.
o amor é construção. 
diária. contínua. ininterrupta



      15 setembro 2015 5:55
NASCE RUBI









bom dia, 33. 

sem RG, sem documento, sem carteira, sem dinheiro. porque perder uma carteira cheia de coisas que diz quem você é, no dia do seu aniversário - diz muito. é realmente fases de novos ventos. e é caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento que eu vou. por que não?

tem muita vida lá fora. e aqui dentro também.

e a imagem que eu quero guardar pra mim de ontem, mais do uma mão vazia pela falta de uma carteira, dinheiro e documentos ... são as mãos abertas pra abraçar tantas pessoas queridas que cruzaram meu caminho. ontem e sempre. que fazem dessa vida toda uma vida com mais sentido. e já sentir a Rubi ganhando tantos abraços dos meus amores. e eu e minha barriga, poder abraçar tanta gente, sem me preocupar com a Amora, pois tem braços de sobra cuidando dela por aí - os meus amigos, que são os amigos dela também. nossa família estendida. o povo que a gente confia e se entrega. e no fim de tudo, sentir falta de mais braços pra carregar pra casa todas as flores que ganhei. perder/ achar, é tudo uma questão de ponto de vista.
31 julho, 09h25






 morrerdeamorcontinuarvivendo - eu assumo, me perdi em você. completamente. li muito e vivi intensamente o puerpério, o período pós parto que bagunça tanto nossa cabeça-mente-coração com a chegada de um novo integrante na família com essa ligação poderosa que é o de gerar, nutrir, florescer. você floresce. você já tem dois anos. e você "só"tem dois anos. eu brinco seriamente dizendo que tenho dois anos também, porque tudo mudou tanto, mas tanto, que mal consigo reconhecer o que me era antes de você. mas eu tenho 32 anos. antes de você, eu conheci, vivi, amei, me iludi, sonhei, trabalhei, celebrei e enlutei tantas coisas nesses 30 anos. portanto, tem mil gavetinhas afetivas, muitas memórias embrulhadinhas aqui dentro. e você tem criado as suas - onde eu ainda faço parte na maioria das vezes. mas cada vez mais,  suas gavetinhas pro mundo todo serão abertas e povoadas. estarei aqui pra ouvir suas histórias, acolher suas aventuras e descobertas. e sinto que farei as minhas, cada vez mais sem a sua presença física. é um movimento bonito, mas também um movimento que carrega alguma despedida, desse cordão que nos ligou fisicamente por nove meses. e que continua pendurado em algum lugar de nós. sei que pra sempre estará, mas sei que você é você. "eu sou". você já domina essas palavras. "eu sou amora" - você diz. sim, você é. e junto contigo, eu também vou descobrindo que "eu sou". quem eu sou depois de ter você.
25 julho, 15h32







" - filha, olha aqui pra gente fazer uma foto nossa". 
não. é impossível tirar os olhos dele.

é do lado de alguém que anda descobrindo o mar que a gente percebe que viramos adultos. não importa se está céu azul, nublado, sol, chovendo. o que importa mesmo é entrar nele. se jogar na imensidão. e fora dele, admirá-lo sem fim. e chorar para entrar mais um pouco. e assim, vou revivendo uma emoção que foi minha também, um dia.
21 julho, 12h35









hoje não era mais o mar o assunto de interesse. porque existem muitas coisas além do mar, sim. como o moço de boné vermelho, o carrinho vermelho e um pacotinho vermelhinho que embrulha uma maravilha que derrete na boca, não há como negar. um pedaço meu, deseja te proteger do açúcar, do industrializado, etc. outro pedaço meu acredita que a saúde anda bem aí, na leveza da vida, entre um lambuzar-se de chocolate na beira da praia antes mesmo do almoço. e assim a gente vai equilibrando essa equação - do pode, não pode. do sim e do não. do daqui há pouquinho, só um, e outras vezes, deleite-se filha, a vida é curta. 22 julho 10h45








uma vez eu escutei algo que eu não esqueci: o processo de enlutamento do corpo de menina, para um corpo de mulher. é uma passagem bonita, mágica, dolorosa. e esse luto se repete novamente quando passamos a carregar uma nova vida dentro: é o luto do corpo de mulher, para um corpo de mãe. eu gosto da palavra luto nesse caso. porque enquanto ficamos presas a algo que já não existe mais - isso sem entrar nas questões estéticas (que são talvez as mais difícieis), como o engordar, tem a bacia que se abre, a coluna que muda o eixo, o pé que aumenta para suportar o novo eixo, as articulações mais frouxas, os peitos que incham e a barriga que forma a casa, o abrigo, que aponta e não deixa mentir, que afirma e reafirma na frente do espelho: tudo mudou. novos tempos. uma nova vida vem aí.







posso fazer uma maquiagem em você, mamãe?

pode.

e em mim, pode?

pode.

ficou pronto, mãe.








quando o ontem vira um ano.



quando um ano vira "quase-dois". 



quando um "quase-dois-anos” vira também



uma espera 



de mais um(a) amor(a).



a vida se multiplica.






























primeiro diálogo da manhã
- mamãe, tem um bb na sua barriga!
- tem sim. é sua irmã.
- vou segurar o nenenzinho.
- ele vai ser seu, Amora?
- vai ser meu. e seu também.
16 maio, 08h23

08h57, nasceu. explode coração!



e então, começava o meu trabalho de parto. dois anos atrás. bem agora. não tinha idéia de quem viria, como seria nossa vida, quantas mudanças aconteceriam... me sinto também com dois anos, dois anos de vida nova, dois anos de vida com você - crescendo e se descobrindo: juntos, em família. e naquele dia 15 de maio, o mais bonito dia do ano, te segurei no braço, em casa - numa manhã de céu azul. e quando a Betina, nossa médica-mestra-guia, decidiu abrir uma cerveja com o Guto, pra comemorar seu nascimento, toca o seu celular. era mais uma mãe, uma nova-mãe nascendo, entrando em trabalho de parto. nos despedimos apressadamente e felizmente, pela vida correndo a todo instante, todo instante. quem nasceu naquela tarde, foi o Benjamim, esse mesmo que está ao seu lado na foto - que a gente teve o prazer de conhecer mais tarde e conviver, assim sem querer, assim desses encontros bonitos da vida. parabéns pra vocês. dois anos é um mundo! 15 maio, 00h43





dormiu fora. e eu acordei quase sem ar de saudade. pensando nessa loucura sã que é ser mãe - nesse amor desenfreado, nessa ligação que qualquer pedaço de fio, cordão, linha, que ela encontra no seu caminho, ela traz ao meu umbigo, segura com as duas mãos, e em silêncio, olhando bem nos meus olhos, "monta" um cordão umbilical - eu sempre fico bem impressionada com essa brincadeira. arrepiada. meu corpo todo treme no silêncio dessa ação inocente que vira e mexe ela repete. ... como fico toda vez que acordava no meio da noite e dizia : "-ela vai acordar agora, vai pedir pra mamar", e no mesmo instante que eu terminava a frase no meu pensamento, ela chorava. como é possível tamanha ligação? Deus, deve ser mulher. e mãe. porque a minha vida hoje é tomada pela presença e não-presença dela. porque nenhum trabalho, nenhum homem, ninguém é mais forte que essa sensação que carrego aqui, desde o dia que ela saiu pelas minhas pernas e eu disse "- oi. sou sua. sua mãe. bem-vinda". que essas noites em que ela dormirá sozinha, em outras casas, só vão se multiplicar, até o momento que ela terá a sua própria casa, os seus filhos. e num dia bom, ela virá até a minha casa- que será sempre dela, com sorte, trazendo nos braços um filho. e então, sentaremos juntas pra falar sobre essas coisas. 10 maio , 10h35







eu e meu bolo de gato que eu nunca esqueci 




- um pedido atendido pela pessoa que está mais feliz na foto, minha mãe.





 hoje eu sei o que é essa felicidade que ela estava sentindo….
09 de maio, 14h35


"- mamãe, esse livro tá muito duro. a gente precisa cozinhar ele um pouco, pra ficar molinho".
amora, 1ano11meses (se queixando da capa dura do livro e demonstrando um despertar culinário interessante )

06 de maio, 10h51




muitas bananas maduras por aqui, um tempo feio pra ir pra rua, tudo isso junto com alguns índios que eu comprei nessas lojas de 1,99 e nunca usei. então tivemos a idéia de fazer um navio de bolo pra transportar esses índios. tenho essa receitinha muito fácil, simples, sem açúcar e gostosa pra variar no café da manhã e lanchinho da tarde. compartilho aqui a receita, junto com nossa "construção naval” 
BOLO DE BANANA DOS INDIOS 

Ingredientes 


- 4 BANANAS NANINAS BEM MADURAS 
- 03 OVOS
 - 1/2 XÍCARA DE UVA PASSA OU AMEIXA SECA
- 1/3 DE XÍCARA DE CHÁ DE ÓLEO DE COCO .

 bater todos estes ingredientes. depois, junte 02 xícaras de aveia em flocos, castanhas e 1 colher de chá de fermento químico. 20 min no forno e tá pronto pra transportar índios famintos! 


05 de maio, 12h22





a sensação de "apresentar" o mundo para um ser humano e a "responsa" na formação de um ser, é uma jornada que, além de muitas coisas, causa temor e certa solidão. é muito difícil se livrar dos ideais, dos julgamentos de certo e errado, da culpa... entrar numa estrada desconhecida, onde o importante é a caminhada, obversar as pedrinhas e obstáculos de uma maneira mais ampla, poder se divertir com as pontes estreitas e agradecer pelo frio, sol, mudança de rota e aceitação de que a floresta é cheia de imprevistos, que a gente não controla nada e que o barato é esse caminho, e não o fim da estrada... é um baita exercício. um exercício lindo. e a coisa fica mais chocante ainda, quando a gente tem com quem dividir as emoções do caminhar. gratidão.

retiro barro molhado
fazenda serrinha 17.04 a 20.04







maiores infos sobre o barro molhado: https://barromolhadoblog.wordpress.com

23 de abril, quinta-feira 10h40




amora ontem pediu pra dormir na casa da titia lau, titia rafa e titia margô (a cadela fofa que mora com elas e que também ganhou o título de titia). pediu assim, espontaneamente. “as titias” amaram e nós também, porque tá pesado aqui pro guto cuidar de uma bebezona ativa e de uma mãe imobilizada por conta de uma queda (nada grave, mas serão 07 dias sem colocar o pé no chão) . a titia lau acabou de me escrever que ela dormiu a noite toda.  (muito amor!)  fiquei pensando sobre uma conversa que tem rolado em alguns grupos de mães sobre os “terrible twos"(aqui um link de um texto sobre, que gostei/me identifico http://buenaleche-buenaleche.blogspot.com.br/2015/04/a-crianca-de-dois-anos-e-os-terriveis.html?m=1) - e esse desejo de autonomia que vem nessa fase - vivido tão fortemente por aqui. estar com outros adultos, com disponibilidades e histórias diferentes dos pais, tem feito um bem enorme a ela. e consequentemente, a nós também. não sei como seria ouvir da boca dela essa vontade de dormir fora de casa, tão clara e convicta, caso não estivesse grávida (talvez me sentisse rejeitada em algum nível, rs ), mas no atual arranjo, tem sido libertador e lindo - poder atender o desejo dela e reconhecer que era algo legítimo, com ela feliz, dormindo a noite toda. e perceber que também é um desejo meu, da minha própria autonomia, do ficar em silêncio numa manhã de terça-feira de feriado, refletindo sobre esses processos que a vida nos dá, ou nos exige. enfim, quis compartilhar desse momento... onde me encontro indisponível por conta do gesso, sendo obrigada a desacelerar o ritmo, e vendo o fluxo seguindo e encaminhando. gratidão as titias pelo amor incondicional.





na foto: amora tomando café com a titia rafa, em foto mandada pelo whatszap pela lau, pra alegria de uma mãe numa manhã qualquer longe da filhota.
21 de abril,  terça-feira 09h40






1ano10meses


 - o tempo voa filha, numa velocidade que se a gente não tá atento, a gente perde o melhor da vida : as coisinhas simples e preciosas que acontecem quando estamos distraídos. portanto filha, com você eu aprendi não a parar o tempo, porque isso não existe - mas você me ensinou que o tempo é a gente que faz - - é um privilégio, uma sorte e eu diria uma graça poder viver dentro do seu tempo, nesses quase dois anos mágicos dedicados exclusivamente em nos conhecer, em aprender uma com a outra, em fazer do nosso jeito, do jeito que a gente quiser. com calma. olho no olho. com muito amor. com muita dúvida. medo. choro. e o principal: você tendo a mim e e eu a você. daí o resto fica pequeno. inclusive a gente mesmo. e quando a gente tá bem pequenininha, do tamanho que se é, perante ao mundo-vasto-mundo, a gente se diverte de verdade.
15 de março, 08h36, domingo




um conto pro dia de hoje:


essa semana, depois de não sei quantos mil anos, fui abordada em um café. um homem, depois de passar algumas vezes na minha frente, uma troca simpática de olhares, sentou ao meu lado e perguntou: 

- oi... tudo bem? você vai ficar muito tempo aqui? você me emprestaria seu carregador um pouquinho pra ressuscitar meu celular?
(eu estava carregando meu telefone).

- claro, sem problemas.

depois de dois minutos, chegou na pergunta paulista:

- o que vc faz?

- hoje? mmm... sou mãe. exclusivamente.

ele deu dois passos pra trás
silêncio.


mais um pouquinho de conversa e :

- como vc se sente hoje?

- um pouco enjoada. ainda digerindo o bebê que está na minha barriga.
silêncio.
 

mais 04 passos pra trás.
e fim.
08 março,  domingo - dia das mulheres, é  isso.





era quase um estado febril, e ainda entre o sonho e o real, o olho cheio de remela, a camisola que teimava em cair, a cama toda amassada e o seu rosto também, o sol entrando tímido pela janela e o celular ao seu alcance. o celular ao seu alcance. o celular ao seu alcance. 08h24, cedo sim, mas por que não? sem pensar muito, no ritmo embriagado de alguém que acorda e não quer pensar nas consequências dos atos, discou. tocou uma vez, tocou duas vezes, tocou três vezes. " -alô! bom dia." dito de um jeito que foi acompanhado de um sorriso, um bom dia mais longo e escorregando pelas bochechas que se abriram horizontalmente, um bom dia de alguém que parecia surpreso com uma ligação logo cedo, vindo daquele número. ainda de olhos fechados, a pessoa que discou dizia rapidamente, direto ao ponto,  com clareza e foco: "-bom dia, precisava ouvir uma voz e não era qualquer uma, era a sua. ponto. que bom que você atendeu. preciso dizer que estou de novo, naquele sobressalto conhecido. meu quadril se mexendo lentamente, ainda na cama, ainda de olhos fechados. não quero abrir. quero só ouvir sua voz. você pode falar? você pode falar qualquer coisa? você pode descrever o que está vendo, o que está sentindo, sua roupa, seu entorno, sem interrupção? porque vai acontecer. vai acontecer de novo. talvez eu tenha sonhado com você. talvez eu tenha passado a noite toda me tocando. talvez. não sei, mas tem que ser agora. a sua voz, o seu jeito de ver o mundo, os seus detalhes, os seus olhos. os seus olhos, no meu ouvido. o meu ouvido, minhas mãos,  meu corpo saltando pela camisola. meu corpo ficando pequeno, meu corpo quente, sua voz. você do outro lado da linha, você. eu aqui, você aí, nós. você pode? "

"-posso". e o "p o s s o", música para os meus ouvidos. e começou - estou no ônibus, mochila nos meu pés, sapato cano alto preto que você já viu, gostoso, confortável e pode me proteger da possível chuva que virá no meio do dia, ou não. vamos ver como são pedro irá se comportar. comi duas belas torradinhas antes de sair, doses de café preto, hummmm. dei uma olhada no jornal, desci as escadas, olá para o porteiro, olá angélica bilhete único e aqui estou com o livro do john lennon a me acompanhar, pensei em pegar da mochila, mas toca o telefone, é você, surpreso atendi, seu impulso, meu canal, meus poros abertos tudo muda e você aí do outro lado bem sei o que faz.








5h52 RJ - Ipanema


quarto escuro do hostel, Guto dorme no chão, Amora fofura aqui ao meu lado capotadinha - tô aqui pensando que viajar de carro longas distâncias me aproxima do parto natural. tanta coisa que vai acontecendo no meio do caminho. aquela sensação constante que tudo pode acontecer, essa estrada que corre sem fim, os caminhões, as paisagens que mudam, os
passarinhos e vacas no meio do caminho. parece que não acaba nunca. dormir, comer e acordar na estrada. o destino sendo um mistério. minha infância e as músicas que meu pai cantava no carro para se manter acordado. eu repito as mesmas canções hoje, para fazê-lo

vivo dentro de mim, para perpetuar essa história com o avô que a Amora não conhece. na beira da estrada, uma cerveja gelada é Jesus. fico completamente irritada em embarcar nessa idéia com o Guto, mas depois de alguns minutos rodados, a janela aberta e aquele ventão de terra entrando, o pensamento cai por chão. é bom. é ruim. é bom. é melhor quando a gente chega no quentinho do Rio. é gostoso também avistar nossa casa daqui de longe. de longe as coisas ficam do tamanho que elas são.

27 de novembro, 06h10







02:24 - Linhares, ES. 

não sei basicamente nada de Linhares, sei que ela tem uma luz bonita durante o dia, que ela me afasta mil quilômetros de casa e que ela está próxima ao nosso destino final ( caraíva ) , porém, consta no waze que temos mais sete horas de viagem. para quem rodou 14 horas, sete não parece tão ruim. então eu venho aqui pra contar que essas 14 horas foram surpreendentemente incríveis no quesito Amora. ela dormiu, acordou, ficou na cadeirinha, óbvio que mamou com o carro em movimento também, mas voltou pra cadeirinha, cantou, brincou, dormiu e resmungou pouco - bem pouco. bizarro. até tablet emprestado a gente arrumou - mas nem usamos. era a última carta da manga, que ficou guardada. então a gente chega em Linhares, no fim da tarde de antes de ontem - comemorando nossas 14 horas ... então a gente chega, toma banho e procura algo pra comer. nada. já havia sido um dia todo de polvilho, fruta seca, castanha e frutas que já estavam beem maduras. amora não janta, eu também não - guto come um bob's - - - e passa mal. muito mal. pra vocês imaginarem, estamos juntos há 07 anos e eu não lembro de ter visto ele vomitar esses anos todos. mas a noite passada, ele vomitou sem parar. guto de cama. e eu me sinto no meio do nada, cuidando de dois. não dirijo. dependo da melhora dele pra gente continuar. sei que uma viagem tem dessas coisas. a vida tem dessas coisas - a gente sabe disso. enfim, tamo aqui parado. e daí que eu fico fazendo um exercício de pensar no que realmente importa. 
18 de novembro, 2h48






ser mãe é fazer aquele xixizinho na madrugada com o celular na mão vendo foto da bebê depois de passar 24 horas com ela todo dia-santo dia e ter acordado de um sonho onde a presença dela era um rosto bem gigante e gorducho que tomava conta de todo o enredo.
06 nov, 17h10 quinta-feira





então que já faz
um tempo que não basta dar de mamar pra satisfazer a Amora. as bonecas da Amora tem de mamar também. não, ela não coloca a bonequinha no peito e nina... ela coloca mesmo a boneca no MEU peito e enquanto EU dou de mamar pra boneca, ela bate na bundinha da boneca em questão e dá uma cantadinha. ok, até aí engraçadinho pra caramba e já li que na casa de outra amiga acontece assim. acho que é a maneira delas elaborarem o afeto/ cuidado que elas tem com as coisinhas delas ... e então que depois de um tempo não somente as bonecas eram colocadas no peito, mas os bichos também entraram na roda: cachorro, pato e ursos também mamam. daaaaí, que hoje mamou um livro, uma bola, um carrinho e uma caixinha de cd. e agora que ela dorme sossegadinha lá na cama dela, eu estou aqui, bem pensativa sobre as possíveis evoluções dessa brincadeira
05 nov, quarta-feira 22h51




#cortacola, nov 2014




sonhos de uma noite de verão:

luzes apagam/ gestos acendem

(um extintor de incêndio entre nós)

nesse calor/ o silêncio é amor.
31 out, 5h21







estou aqui escrevendo inclusive pra me fazer entender também de tudo aquilo que ouvi/senti pós-experiência com o grupo órion ( grupo de educação ativa do equador)


o que me fica forte é:



a base da educação ativa é o amor e respeito. 

amar significa a aceitação completa do outro, assim como ele é. 

se eu amo, eu o aceito por inteiro. 
e respeito seu tempo, suas vontades, suas máximas e mínimas.



tudo o que vem depois, está ligado a essas duas palavras chaves : amor e respeito.



se eu aceito o outro, o outro é livre.



e ser livre é



ter autonomia

para ser quem é na sua máxima potência

para escolher suas brincadeiras, seu tempo de se movimentar, de engatinhar, andar, comer, estar com quem gosta, fazer o que gosta, chorar quando é necessário



amar é  acolher



o choro

a frustração

as dores



é aceitar,



amar é

estar presente sem julgamentos e expectativas



amar é

dar limites (com amor)



é dizer não quando necessário
e acolher o choro que vem da frustração do não.

"eu estou aqui". "pode chorar, eu estou aqui".

para os limites com amor, as regras devem ser claras.
"aqui nós respeitamos quem estava brincando primeiro". " aqui nós não puxamos brinquedos da mão do outro". "aqui na casa do vovô nós não rabiscamos as paredes".

e para a criança não ouvir tantos nãos,
como isso se dá na prática?

: fala-se muito da importância do ambiente preparado

- ambientes preparados: ambientes relaxados, livres de perigos ativos.

isso requer um preparo de ambiente (materiais sensoriais, ambiente aconchegante para o bb se movimentar livremente, água e frutas ao alcance para quando tiver fome, etc) e um preparo de energia. 
para mim o que fica forte é que de nada adianta um ambiente preparado se um adulto não está relaxado. ou seja, o ambiente preparado é bem complexo. requer dedicação, preparo físico, mental e eu diria, inclusive espiritual. 
é um desafio e tanto, mas não imagino algo diferente disso para que a base do amor e respeito, e a autonomia da criança seja vivida na sua máxima.

um momento de conexão verdadeira com o seu filho, emana uma energia que persiste no ambiente por um bom tempo. isso faz com que a demanda seja mais leve, te libertando para os afazeres, combinado com um ambiente preparado onde a criança possa explorar suas capacidades e que deixe essa conexão se estender, permitindo a sua segurança, bem estar, sabendo que é amada e respeitada.

o que me ficou forte também é a radicalidade e profundidade que eles embarcam nessa qualidade de amor e repeito. 
requer dedicação, paciência, entrega, quebra de paradigmas, estar no mundo de outra forma. eu nem posso imaginar a recompensa disso tudo.

estou bem impactada. os caras tem uma vivência de 27 anos desses conceitos que escutamos em vários lugares, sendo realizado no dia a dia, na prática, saindo da cabeça e descendo pro corpo, pro coração.
é possível." 


10 setembro







de repente me esbarro num intensivo curso

de educação ativa

de repente por ela me vejo 

com tantos interesses novos

desejos que agora são meus

de repente o dia todo 

separadas, em conexão

ela bem, muito bem 

- viva o pai, o avô, a avó, a tia lau, a rafa, a margot, a praça, o parque!



eu bem, muito bem

- viva seguir os desejos, as novas perpectivas, as quebras de paradigmas,

aos novos já velhos amigos que tecem essa rede de trocas 



de repente 8 horas ininterruptas de sono

muitos sonhos 

altos sonhos



é bem real 

essa vida

é real 

grandeza
24 agosto



há dois anos atrás
exatamente eu tinha 30 anos, alguns sonhos no bolso e uns escritos na bolsa
descobri o sabor do cafezinho preto por esses tempos
e na virada dos 30 decidi que iria tomar mais porres do que qlq adolescente de 15
e no meio da farra 
um exame
a confirmação
um feijão
germinando
na minha barriga
eu iria ser mãe em exato noves meses
a vida virou do avesso ( pra nunca mais voltar )
os porres ficaram pra outra hora
os sonhos ganharam asas
os escritos viraram colagens
a bolsa? claro, estorou
e os cafezinhos ganharam uma importância essencial nessa nova vida,
15 agosto



cenas de um desmame noturno
ou
nunca pensei que isso poderia dar uma diarréia
ou 
minha dificuldade tremenda em colocar limites & o limite é só um questão de prisma 
ou 
a tetinha da mamãe sofre sem o biquinho da neném
ou
o grande amor da sua vida vai morar na lua, a derradeira despedida
ou
tem coisas que nem uma barra de chocolate resolve
ou
estufa o peito e mata de frente.

e cá estamos nós. nesse processo delicado que é isso tudo de ter uma vidinha pra olhar, zelar, cuidar, alimentar, trocar, banhar, ninar, acalentar e ... dizer não,  - quando este precisa ser dito.

e cá estamos nós, nessa quarta noite de mais uma etapa intensa de sermos duas em uma, ou uma em duas ou descobrindo quem é quem no vai e vem de bico, leite, sangue, pele. 

sim, o mais profundo é a pele. 

um,
primeiro quero dizer que a vida noturna melhorou muito desde que abandonamos a idéia de colocá-la para dormir na sua própria cama (isso aconteceu por volta dos 9 meses), e encaramos o fato que a cama compartilhada é vida!  portanto, o arranjo hoje em dia que nos cai bem é: amora começa sempre dormindo no seu quarto, na primeira acordada, seja meia-noite ou três da manhã, o pai a busca, pluga no meu peito e assim vamos.. dormindo, mamando, dormindo, mamando, sem consultar quantas mamadas, quantas acordadas, tudo numa espécie de sonho acordado. acordo disposta e vice-versa, e assim tem sido. até quando? não sei. 

( é possível uma maneira orgânica de desmame noturno? sim, deve ser. conheço pessoas que passaram por esse processo? sinceramente, não. gostaria que acontecesse comigo? sim!! existe uma certa ansiedade para que isso aconteça? sim, também)

dois,
tem dias que me sinto exausta. principalmente quando passo o dia todinho na rua com ela, dormindo no colo, comendo, brincando nos seus 11 kilos de gostosura nos braços. e assim, foi que cheguei em casa numa exaustão de fim do dia em plena segunda-feira, dia 14 de maio...

o processo de estar presente, inteira o dia todo - brincando, observando, sendo, comendo, bebendo, etc e etc requer disposição e ânimo. chegar em casa e fazer a janta, dar banho, brincar, dar o peito, ninar e esperar que ela adormeça para assim você ser você um pouquinho é algumas vezes uma cena bem dramática - essa segunda à noite foi assim, fiquei muito irritada de dar esse peito da noite pra Amora dormir - 

 - quando ela acordou, no meio da noite, percebi que o guto havia assumido o comando e começamos o processo de desmame noturno. foi tão duro pra mim que tive até diarréia. eu não sei o quanto deve ser assim,  penso que ela tem um ano e dois meses, que já é grande, inteligente, entende tudo. não está desamparada, esteve no nosso colo a noite toda e sempre fez tudo que quis - pela primeira vez está lidando com um limite claro -  "não amora, agora não. a noite a gente dorme, não mama". claro, virou uma fera, me bateu, gritou, urrou - noite adentro. terrível. só foi possível tolerar 07 horas sem mamar ( temos tentado o método do dr. gordon ) porque o guto estava disposto e convicto. meu coração acordou em caquinhos. ainda não sei se tem que ser assim, só sei que talvez tenha doído mais pra mim do que pra ela... mostrou o quanto esse demame noturno é importante pra mim, pois pela minha vontade egoísta ela seria pra sempre meu bebezinho me requisitando all the time.

- ela acordou bem, mamou bastante e eu me senti um pouco violentada por dentro. um certo luto.

medos:
 - tenho medo de não ser mais a figura central da vida dela, a quem ela não possa ficar longe. tenho medo dela ficar com raiva de mim. tenho medo de adiantar um processo que pode ser mais orgânico pra nós duas. morro de medo das saudades que eu vou sentir pra sempre desse amor simbiótico. 

um dia de muitas questões...

então veio a segunda noite:

aqui estamos, acordando as nove da manhã (raridade minha gente!) com a amora dormindo no quarto dela até as seis (nunca antes!) . é incrível a capacidade de assimilação! ontem foi um dia bem duro pra mim, de olhar pra dentro e ver o quanto quero permanecer com o poder sobre a amora, e a amamentação como arma, o quanto sermos uma me incomoda e ao mesmo tempo estou tão apegada a isso, o quanto é difícil me desafazer do que aparentemente parece ser simples ( é só o desmame noturno, são só 7 hs, ela não vai desmamar) - mas o que isso significa pra mim é muito - é um bb que cresce, ganhando autonomia e liberdade pra dormir sem o biquinho da mamãe! deus, quanta coisa. até o susto da decisão ter partido do guto, comandando a situação - diz muito sobre mim, sobre nossa dinâmica familiar, sobre a presença masculina na minha vida.

...

cheguei para essa segunda noite virada, sensível e emotiva
tive apoio dos dois (amora linda incrível dormindo tranquila com o pai e aceitando o peito as cinco da manhã apenas ) e passamos de uma noite filme de terror para uma segunda noite de muito aprendizado e conhecimento de nós 3.



sexta, 10h52 - 18 de julho












eu não tenho mais livros pra carregar
eu não tenho mais artistas pra copiar

eu não tenho mais sapatos pra me apegar
e nem novas cores de batom pra me enfeitar

eu tenho você. ele e você. uma mala velha e sonhos novos. uma estrada toda pra seguir, um cd velho da gal e um peito pra te dar colo, comida e calor. 

eu tenho você. ele e você. e uma minas toda à nossa frente, montanha e céu azul profundo, o milton na cabeça e uma solidão que me acompanha, mesmo povoada de tanto e tantos. mesmo amora, amor.

eu tenho você. você e nós. nosso primeiro ano de muitas vidas que virão, veremos. cheirinho de cocô de vaca pela estrada fora eu (não) vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha. ela mora longe o caminho não é deserto, mas é incerto. pra que certeza, minha filha? minha loba, minha maçã-do-amor, meu quentão.

é junho, 
é frio e bonito.
é 2014 e eu me perco nas datas, nos meses. é dia, é dia. é noite, é noite. isso eu sei, é olhar pro céu meu amor, e ver como ele está lindo. céu-guia. estrelas versus escuridão. lua-cheia, uau. céu de minas, não tem igual.



.....





o vale.

"o melhor da viagem são as pessoas, o melhor do matutu, são vocês"

paulo & mara

ele 70, ela 56. ela no café da manhã, ele no jantar. mara é fala rápida, corpo magro e ágil, professora no melhor que se pode ser, forte, expressiva, bonita, cheia de vida, cheia de história, conversa boa, ficou amiga da Amora na primeira olhada e desde então, Amora vem comendo bem pra caramba. feijão, pinhão, lentilha, arroz integral, abacate do pé, mamão, abóbora e tudo que a Mara oferece, Amora come. come com gosto e a gente gosta.

paulo é fala mansa, olhar profundo, barba branca, imponente. é doce e altivo. paulo é bonito. paulo e guto, um caso de amor. eu, profundo respeito e admiração por dois homens distintos. paulo fez a fogueira mais bonita que eu já vi na minha vida toda. ele deu risada e disse que paulista não sabe fazer fogueira. paulo é de carmo de minas. tem orgulho de ser mineiro. e eu tenho orgulho de conhecer o paulo.

paulo e mara. 
dois fodões que cruzaram nossa viagem, pra fazer dela uma viagem inesquecível. 
uma estrada sem personagem é uma estrada perdida.
uma estrada com paulo & mara é uma viagem sem volta.





fazenda são pedro.

entre cruzilia e aiuruoca tem um casarão de 150 anos, onde residem Dona Neusa e Seu Fabio, nascido ali mesmo, pelas mãos de uma parteira. um casal de velhinhos ativos, apesar do reumatismo e fragilidade do Seu Fabio, porém de uma lucidez intensa. Dona Neusa é a mãe de todos, sempre com um pão de queijo quentinho saindo do forno ou um pé de moleque pra oferecer com o café. Passamos 04 dias lindos com eles e seus filhos que estavam de férias por lá. Dona Neusa me explicou a diferença dos hotéis fazendas e da fazenda são pedro : "- hotel fazenda é um hotel que diz que é fazenda, aqui é uma fazenda que recebe".

e foi assim mesmo. são cinco quartos, e num deles o casal, nos outros os filhos e no outro, a gente.

amora andou de cavalo pela primeira vez.

viu bezerrinho mamar na vaca.

jogou milho pras galinhas.

e o mais lindo de tudo:
viu muita, mas muita estrela no céu
















































sul de minas,
(tiradentes, barbacena, cruzilia, vale do matutu)
14 a 26 de junho 2014





era uma vez um casal que virou um trio
duas mulheres e um homem
duas mulheres & elas mesmas
uma mulher, um bebê e uma cidade

era uma vez um casal que virou uma família
uma dança-equilibrista de cama mesa & banho
quem dá mais, só que dá menos
quem cozinha, come em pé, não mais deitado

era uma vez um casal, um bebê e um prédio antigo
sem elevador, sem empregados e uma babá bonita

era uma vez o supermercado em dia, a geladeira cheia, o feijão fresco, a casa limpa, o lixo vazio, a cama arrumada, o pão-nosso, as 06 horas recomendadas de sono, o cocô sossegado da manhã, o cochilo pós almoço de domingo, a novela e o telejornal, o minuto de silêncio 

pra sempre não sei, mas pense numa felicidade. 

7 de junho - sáb,  22h16





deu nas redes sociais 
 cai neve em SP
você fez um ano






foi na virada do dia  17 pro dia 18 era dia de virada cultural foi bem lembrada que naquele ano passado você tinha 03 dias de vida e eu permanecia ligada ao mundo pelas redes sociais me informando quais amigos foram ver tais shows e mesmo eu no escuro do quarto, pós parida, alimentava um desejo secreto de fazer parte daquele mundo lá de fora que virava a noite assim como eu -  uns em meio a multidão e  vasta oferta cultural na cidade que nos abriga, e outros (no caso eu ) virando mãe  por 3 dias, _ leia-se aqui: virando noite,  re-virando a vida, me revirando inteira.

foi na virada do dia 17 pro dia 18 que tive frios na barriga de pensar e se chover e se não for ninguém e se for um fiasco e se a moça do buffet não aparecer e se  a piscina do parto que será a piscina de bolinhas das crianças amanhã estiver furada e se a praça estiver cheia de cocô de cachorro e   se  você  quiser dormir no meio da festa e não conseguir por conta do agito e se e se e se e se

amanheceu
seu pai e eu
fomos até lá

a piscina furada
os cocôs na praça
predestinação


a moça do buffet chegou  
junto com o carline e namorada, que vinham alegres
 do show da tulipa
  
a lia aniversariante chegou 
junto com a papi a tia laura o theo a helena a worm e o rock

você dormiu na rede bem nessa hora que quase não tinha ninguém
pra depois curtir adoidada
 as suas doze horas de festa

o som da lu não pegou
mas a vizinhança ensaiava um rock da pesada
que no final ficou até engraçado

e lá pelas cinco horas
choveu choveu choveu
choveu choveu choveu
 granizo choveu!


 e a  ciça que chegou na praça bem nessa hora 
falou:

-bebês corriam de um lado, mães de outro. bexiga, cadeira, mesa, bambolê, bolinhas da piscina de bolinhas, bolo, brigadeiro, uva, banana, toalha voavam. a chuva  não caía, desmoronava.  o céu escureceu e uma cena do felinni passou pela minha frente.

(eu sorri quando ouvi)


e foi
nesse dia,
depois de 3 meses sem
chover
nessa cidade,
o mundo caiu e
você
fez um ano.


daaaaaí que
veio o lado b
da sua festa,
lá na CasaBrasaMora

- que esse lado eu conto quando você fizer 15 anos.




aqui,
 minutos antes da chuva inundando o seu pedaço de bolo e todos os seus docinhos,

foi um dia e tanto.

















pra contar que:
o meu pós-parto pegou-pesado mesmo quando a Amora estava ali nos seus 8 meses, onde deu início a angústia da separação. que ela saiu do meu colinho e ensaiou o seu engatinhar lentamente, no seu ritmo. que me ver sem ela no colo, e sentir o que tinha-estava me tornando, recolhendo as sobras do que fui e entendendo quem estava ali, agora de pé, observando seu bebê ganhar a vida, foi dolorido pacas. eu quis engatinhar também: pra rua, pro que fui, pro meu passado. mas ele já não existia mais. eu quis liberdade - - -
nesse meio tempo, gritei por ajuda, visitei escolas, mirabolei planos infalíveis pra me ver separada dela e a reconquistar meu tempo "eu-sem-bebê". então eu conto pra vocês, meus planos todos foram em vão.
- - a liberdade não tava lá fora, nem no meu antigo trabalho, nem nas minhas antigas amizades. liberdade tava ali - engatinhando na minha sala de estar, no quarto, no chuveiro... liberdade é esse amor violento que me prende, me faz olhar pra dentro e a ressignificar a minha história.
"liberdade é ter um amor pra se prender".
( há 06 dias de completarmos um ano de existência )
09 maio, 9h32 -sexta feira






10 meses e 25 dias de Amora 
05 novas melhores amigas 
05 novos melhores mini-amiguinhos respectivos bebezinhos maravilhosos filhinhos delas
02 mulheres que eu ajoelho e beijo o chão e agradeço por existirem, me mostrando que é possível ser mãe mulher selvagem ser humano cheio de lombadas e incertezas
01 terapeuta que salva meu corpo minha alma preenchendo minhas quintas feiras e o final de semana, começo dela e até chegar a quinta feira de novo
cerca de 20 sonhos poderosos com meu pai, minha filha, meu marido, pássaros, escolas e fogueiras
04 reuniões do ghawazee,  risadas choros desabafos e eterna vontade de criar em coletivo
01 retiro de pais & educadores sobre - educação ativa, livre, desescolarização, sonho e tesão
10 meses e 25 dias que a insônia me faz cia diariamente - seja pelo choro da amora, seja pelo não choro da amora, seja comer de menos ou de mais, seja qlq motivo ela está presente na minha cama - um aprendizado diário 
alguns meses entendendo que o corpo se adapta a tudo.  t u d o.
01 show maravilhoso do galo, acompanhado de um cd igualmente maravilhoso onde a amora está presente nos agradecimentos
01 ocupação - exposição das minhas colagens em processo no espaço do 28 patas furiosas
ver nascer o 28 patas, projeto do coração dos amigos que atingiu certeiramente o meu 
12 compras virtuais de cestas de orgânicos
547  roupas que saem do armário para dar lugar a essa nova pessoa que não sei ainda quem é
01 visita numa escolinha do bairro que gerou um pesadelo no final do dia
05 cortes de cabelo curto
03 resfriados
01 assinatura vitalícia do clube do pão
39  cafés e algumas poucas cervejas
01 casamento lindo e a primeira balada da Amora
04 idas ao bar que me renovaram lindamente
03 novas receitas culinárias e uma batata doce que nunca falta na geladeira
01 aquisição de panela que cozinha a vapor os legumes que a Amora não come
20 mil caminhadas diárias e sem fim
100 incertezas que passam pela cabeça todos os dias me acompanhando nessas 20 mil caminhadas diárias
04 slings e 02 cangurus
27 brinquedos que mal saem do saco de brinquedos por falta de interessa da dona
03 ou 04 brinquedos que salvam por alguns segundos e depois são abandonados
12 fraldas de pano
678 fraldas descartáveis
01 babá eletrônica quebrada
14 viagens
07 livros terminados
25 livros começados e largados
12 trechos que mudaram a vida daquele dia entre autores como laura gutman, john holt, sponville, miranda july
16 idas ao cinema
e um eterno perder-se nesse vai e vem, chacoalha e nina, canta e dorme, sonha e mama.
10 abril 08h03 quinta






diário de mãe. 
#22

assim que eu soube da existência dela dentro de mim, o que antes fazia sentido, teve que ser ressignificado. trabalhar com o corpo já não me era primordial, quase contraditório, porque meu corpo jamais foi tão trabalhado durante esses nove meses. os bicos dos peitos ficaram pretos e o volume crescera absurdamente de tamanho, cheios de leite. os jeans foram aposentados para os vestidos-clichês de um corpo que carrega um outro. ela me habitava e fazia da minha barriga a sua casa-morada-lar. eu, não mais eu, nós. que nunca desatam. o tempo é outro. foi nessa época que conheci a palavra-de-adulto: insônia, e desde então, somos muito íntimas. o corpo já não "performava" como me era conhecido antigamente. o corpo agora era matéria de vida brotando. náuseas. coluna-pra-que-te-quero. e um gosto pelo manual nasceu junto com essa barriga-vida que  pulsava -crescia a cada dia. control c / control v. tesoura e cola pritt. corta, cola. a minha costura dessa nova vida.

essas colagens todas soltas por aqui são o resultado desse momento de suspensão : quando se carrega dois corações.


"ser mãe é ter corações fora do peito"



  







#cortacola







diário de mãe. 
#21

porque aqui é assim:

finalmente eu ganhei um espacinho, já voltei pro bar, já fui ao cinema com o marido, consegui pular um pouco de carnaval, fazer massagem, a unha & depilação, ver um show no sesc vila mariana, ver um documentário com a amiga no cinesesc... então eu penso e sei que entramos numa segunda fase. ela já dorme no seu quarto (- oi?? dorme??? ah,tá, ahã. sei.) e que daqui pra frente as pessoas cantam em coro: "só melhora". mas o fato é: nunca me senti tão cansada fisicamente e emocionalmente. a sensação é que antes, no início, como o espaço para mim de fato não existia, ( um corpo só fundido no sling), não havia espaço pra se pensar diferente. era viver aquilo e ponto, com tudo. e foi assim e foi foda e bom, muito bom. agora, nessa angústia tremenda da separação, já posso ver o meu corpo só, enquanto ela engatinha, então penso: "o que sou/virei? o que sobrou do que fui?" 

perguntas difícieis.
momento delicado e dolorido.

(mas não deixa de ser um presente da vida, eu sei)
19 mar, 11h12 qua


















 



hai kai ansioso

unhas:
quando acabo
a fome continua.




hai kai do sono

quando chega
já é hora
de partir: mamar & bye, bye dreams.















diário de mãe. 
#20


sobre aquele conversa 
daquele dia 
naquele momento

a gente
conversou
e disse algo do tipo:

vejo uma mudança chegando e minha resistência em aceitar que não sou mais a adelita que era antes mas ainda não sou outra às vezes vem uma puta carência, um puta tesão e nada pra fazer com isso, estranho, engraçado até. espelho, espelho meu. 

eu também me sinto muito imatura e queria ser pega no colo e se possível mamar numa tetinha até dormir sorrindo hoje eu sonhei com meu falecido pai me pedindo pra fazer uma mala com pressa e eu era absolutamente incapaz de fazer isso tirava e colocava as coisas tentava ser econômica levar apenas o necessário era um tira-põe sem fim e uma angústia igual o tempo corria e eu continuava naquela dança de encher e esvaziar a mala preta de couro que mais parecia um buraco na pele então eu acordei e vi que aquilo não era sonho nenhum sou eu aqui tentando encaixar e/ou jogar fora aquilo que fui e o que sou é essa mala que hora é pequena demais para o tamanho dos meus desejos afetivos sexuais e de explosões hora é grande demais para a criancinha que eu me torno num piscar de olhos é essa dança que eu tenho bailado e sim pra mim tem um lado espiritual nisso tudo tipo "quem eu sou" e então vem uma possível resposta 

eu 
sou 
buraco 
na 
mala



14  março, 9h40


    2013

   2014


((( carne de carnaval, coração igual )))





diário de mãe. 
#19

quase dez, mas são nove, nove meses e alguns dias. e eu tou parindo novamente. uma nova adelita que ainda não chegou, mas aquela lá de trás não foi atrás do trio elétrico, já morreu. quando um bb nasce, o portal da morte também se abre. e é desse limbo, bonito, mas limbo, que eu falo. e não me canso de repetir a frase mais "encaixada"que eu ouvi na semana "ser mãe é se fuder no paraíso". me sinto fudida. toda fudida. e agradeço. agradeço. agora a dor bateu. é como uma flechada de cupido, que sangra, mas poxa, quem não quer um cupido acertando em cheio? eu quero, sempre quis. e agora me vejo aqui, no buraco das entranhas. tentando em vão entender o que não se entende. tá difícil e eu tou celebrando. tou chorando, ma-mãe. eu sou ma-mãe. mãe. que palavra bo-ni-ta. somos. nós. que não desatam. a revolução somos nós, mãe. fruto proibido. eu te agarro e mordo, nós - serpentes. bruxas. queimadas na fogueira. nós, que sabemos o significado da palavra devoção. dar e dar, sem pedir nada em troca. dar e ganhar o mundo. o mundo na palma das nossas mãos. o mundo todo nos nossos colos. o mundo bebe dos nossos leites. vacas profanas. respeito muito nossas lágrimas.





A mulher e o meio-fio, 2014
(para joana ferraz)






A Solidão e os seus Luminosos, 2014
(para papi mecozzi)


25 fev, terça feira 11h32









então
chegou aquele dia
que as lágrimas não
couberam no
travesseiro

peguei ele
(o meu)
o travesseiro

mas conta não deu

peguei outro
o travesseiro
(alheio)

emprestado, um danado
movimento em vão

tive a grande idéia

assaltei o armário
da cozinha com taco
roubei os copos

de requeijão

fazia
sentido

pra mim (?)

ahãn.

fazia todo sentido pra mim.

pingos-e-pingos -água-salgada

enchia (com x ou ch?) um por um
os copos roubados
de requeijão

havia um pedaço
do mar na cozinha

e os cinco copos
de requeijão

no piso de taco
fazia piscina

cheios
dela

das águas
salgadas

daquelas
escorridas

dos olhos
daquela

mulher
que soueu.

mamãe também faz chover.

(e não, não era mentira, bebê
e nem ficção)
13 fev, quinta 9h53













primeiro verão da Amora

Cunha.
Barra do Una.
Sul de Minas, Dom Viçoso.
Retiro Grupo de Pais & Educadores - próx Itu.

do dia 26 de dezembro ao dia 26 de janeiro o pé foi na estrada, a cabeça : coração. deixar rolar, as `aguas rolaram e vão rolar. piscina, mar, balde, chuveiro, mangueira. há 70 anos o verão nunca foi tão forte. e eu nunca tão plena. ela e eu, eu e ela, ela e ele, ele e eu: nós todos juntos, com a família, com os amigos, essas famílias escolhidas que preenchem o vazio das almas. celebração, gratidão. 2014, te tenho amor

sem mais, sem palavras, volto outra hora.
04 fev, terça 12h00




















diário de mãe. 
#18

22horas. terça-feira, 17 de dezembro, esquina da rodésia, vila madalena:

a ligação: - oi guto, e aí, como ela tá?
ele: "maravilhosa, sinto-lhe dizer que ela esqueceu que tem uma mãe. e vc, como tá?"
eu: "maravilhosa. sinto-lhe dizer mas eu esqueci que sou mãe".
bar mercearia, dois copos de cerveja, um pastel de queijo e sem saber onde colocar as mãos depois de tanto tempo com um bb no colo.
a primeira saída é inesquecível. é quase uma viagem de ácido. obrigada ao papai guto, a mama agradece.
(primeira saída solo na noite. que coisa maluca. juro que o maior dos bêbados do bar ontem não chegava nem aos pés da minha alteração de consciência. eu havia esquecido que tinha tanta gente na rua, do barulho estridente de um bar em movimento, do gosto da cerveja tomada no boteco com tanta gente se espremendo. e vi homens bonitos, mulheres também. admirei. e quem sabe fui até admirada! risos. que delícia sair, e que mais delícia ainda voltar e ter um bb e um pai, amor, parceiro, amante em harmonia te esperando de braços abertos. sabe, a vida tá boa!)










 em 2014 eu prometo,

colar. cortar. colar. 
arrumar um tempinho só meu pra brincar com as minhas colas e tesouras. ser eu a bebezinha no meu ateliêr, e nenhum choro de bb atrapalhará o meu flow.


sim, eu vou conseguir. eu quero, eu prometo. 

enquanto isso eu vou olhando um pouco do que fiz em 2013,

entre barriga, 
nascimento,
insônia,
mamada
e soneca.













11 dez, quarta 10h44











diário de mãe. 

#17


muitas coisas. essa largueza de vida que vem junto com o bb e o mundo que você deixa pra trás, as coisas que faziam sentido passam a ser insignificantes e os novos sentidos ainda não fazem tanto sentido. essa relação a dois que agora virou um trio, ainda de difícil acesso. me sinto desconectada do guto, e completamente em fusão com a minha filha. sinto saudades da minha porção mulher e admiro a minha porção mãe. me canso muito e sou muito recompensada por viver integralmente com ela. sinto uma solidão que nenhum sorriso de bb preenche. um vazio que nenhum cheio é capaz de tapar. e às vezes uma alegria desmedida e profunda como nunca. tenho meditado novamente e entrado em contato com uma adelita que aos 17 anos foi pra india em busca de espiritualidade. é muito louco essa adelita me visitar agora, nesse momento. esses meus 17 anos estão muito próximos de mim agora. vontades de ir pro mato. `as vezes em grupo, em comunidade. `as vezes em trio, `as vezes somente eu e ela. estou num processo maluco de reestruturação de mim mesma, que eu acho muito positivo, cansativo, angustiante e amedrontador. odeio ficar no meio do caminho e no mundo das idéias. gosto das realizações. sou atraída por uma vida cada vez mais simples. mas um vulcão mora em mim. nem sei mais o que escrevo e pra quem. só sei que tá bom desabafar. angústia da separação, ela tem 06 meses e eu também. sinto também que tenho 06 meses, que sou uma RN. quem é essa nova mulher que me habita? sou aquela que indaga. e se eu fosse eu, quem seria?
02 dez, segunda 10h35





(essa mãozinha que não desgruda da minha)





diário de mãe. 
#16

tou pensando numa coisa aqui: o tempo da criança é o hoje. ou melhor, o agora. agora. agora. agora. não tem ontem, nem sequer amanhã. isso faz com que ela fique na presença, que faz dela essa potência maravilhosa. então o adulto maduro: é aquele que sabe que o tempo é rei. que "nada como um dia após o outro", que as coisas passam como ondas, que a dor passa, a alegria também. tudo passa. e isso faz dele um sábio. dois lugares tão distintos, diria paradoxais dentro desse pensamento. e agora me pergunto: onde estar? dentro ou fora do tempo? parece que em cima do muro, nesse lugar seguro, é de fato o pior local para se estar. ou cai pra dentro ou cai pra fora.
23 nov, dom 12hoo



diário de mãe. 
#15

obrigada papai do céu por ter promovido esse encontro maravilhoso com algum infeliz que se interessou pelo meu celular e me devolveu o gosto por meditar.
23 nov, sáb 09h12




diário de mãe. 
#14


av.pompéia, quase quatro da tarde, fluxo intenso de carros e aquela conversa tradicional rolando com o taxista: -será que chove? iiii, tempo tá feio. -putzgrila, sp vai parar.é sempre assim. - é. daí que pela janela do táxi, amora e eu observamos os primeiros pingos caírem. pensei alto com minha filha: -xiii Amora, sua mãe esqueceu o guarda-chuva. será que é hoje que você tomará a sua primeira chuva, meu amor? e pronto. silêncio instaurado. cheguei no meu destino. paguei. o taxista desce do carro. pensei: - gentil, vai abrir a porta pra gente. eis que ele saca um guarda-chuva do porta-malas e me diz: "-olha, tá velho mas vai dar pra vocês usarem hoje. fica com vocês." eu agradeci, sem jeito. por ele, pela chuva e por existir amor em sp.

19 nov,  terça - 18h35






diário de mãe. 
#13
 tema: verão, praia, cerveja versus o corpo pós maternidade, a alma expandida, os encontros com a própria sombra
então chega o verão. e a imagem feliz de todos sorrindo na praia, o mar, a cerveja no freezer, os amigos e a transa-soneca pós mergulho é habitada no imaginário coletivo. e a real é: um corpo outro com marcas da maternidade - peitos caídos, barriga de cinco meses sem bebê dentro, flacidez gritando. um cansaço de dias de acúmulo de um bb que sofre com o calor e só aceita dormir plugada, amigos antigos em que eu não me identifico nas conversas apesar dos afetos intactos, uma irritação constante com o marido com as pequenas coisas do dia, um ser extra sensível que chora, uma bb linda em desenvolvimento, um futuro incerto pra esse novo personagem que me cabe. que sou hoje. quem sou? pra onde vou? uma mãe devotada que desabrocha, uma porção mulher abafada entre mamadas, colo, chorinhos e fraldas. um mundo em que ela reina absoluta, Amora. meu antigo mundo que eu tanto amava, escorrendo entre meus dedos que embalam meu bebê. escolhas. de filha pra mãe. necessidades. de toque, colo e tesão.
17 nov, dom 00:25

diário de mãe. 
#12




a pergunta é:que informação teria mudado o meu pós-parto?


1. quem tem parto natural sente todas as dores no trabalho de parto, mas depois que o bb nasce pode até varrer a casa. MENTIRA. eu fiquei uma semana com o corpo beeem dolorido, talvez por ter um trabalho de parto bem ativo, parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão, ou tomado uma surra!! 
2. amamentar é lindo e não dói. MENTIRA. eu chorava de dor no começo e o começo é o bb no peito as 24 horas do dia, ou seja, a sensação é que você não vai aguentar mesmo. mas verdade, logo melhora! depois de uma semana infernal o peito já está "preparado" e tudo ficou bem.
3. que apesar do desejo de ter um filho, do apoio da familia, do amor do marido, da equipe humanizada, de um parto ideal ter se tornado real, de uma gravidez incrível, de tudo estar ao seu favor para que você permaneça bem.... vem um sentimento de solidão feladaputa! e um luto de uma morte de uma mulher pra nascer a mãe que é fudidamente doloroso! que mesmo com todos me alertando sobre esse momento, a vivência dele é muito poderosa, mais forte que qlq imaginação do que seja isso. é só vivendo. ponto.
4. o acúmulo de noites sem dormir é de enlouquecer.
5. o peso da responsabilidade da mãe ( o bb que chora no colo de todo mundo e só a mãe que resolve, e essa mãe que ontem era filha e de uma hora pra outra é mãe) é um piano pesado nas costas.
6. e apesar de tudo isso, ou além disso: o milagre da vida. nas suas mãos. é de uma emoção inconcebível.





diário de mãe. 
#11

um cápitulo da nossa história não registrado, porém muitíssimo importante:
06 a 13 de outubro: na semana do dia das crianças, as crianças de casa (seu pai e eu) ganharam um presente muito especial de você: uma semana no RJ.  toda viagem começa muito antes de começá-la. descolamos um apê-casinha-delícia no Leme, pertíssimo da praia, afinal de uma vez por todas, você não dá presente de grego. esse presentaço foi bem incrível, porque achamos que a gente merece. é isso aí, a vida é curta. voltando ao apê: alugamos pelo site, e a dona do apartamento tem um filha chamada Nina, então até quarto de criança tinha, com brinquedo e banheira no banheiro. Artista, cheia de livros de arte, e eu curiosa que sou, fucei sua biblioteca logo no primeiro dia e me deliciei com o livrão da expo Gênesis do Sebastião Salgado. sabe uma viagem maravilhosa, filha? então, foi essa que a gente fez. nossa primeira viagem de papai, mamãe & bebê. você dormiu praticamente a estrada toda do Rio, e só acordou com os berros do seu pai na entrada da cidade, que é sempre o mesmo filme (ps. por que é tão difícil entrar no Rio?) 

1. então teve o dia que você foi conhecer o mar: 
dia 07 de outubro de 2013



e no dia 09 de outubro de 2013 você
uma bebê de ipanema, cheia de graça


 2. museu & galeria a rodo: 
aqui a constatação de que o melhor lugar pra levar bb é em exposição, tks filha. há muito não via tanta coisa de arte. o sol do Rio não nos permitiu muitos passeios pela rua durante o pico do dia, então a gente tomava um arzinho e procurava um abrigo nos museus locais. 
pipa 2013 MAM, Yayoi Kusama no CCBB, Lenora de Barros na Casa Cultura Laura Alvim, Yuri F. e Berna Reale no MAR. 




 3. aproveitamento do dia, luz do dia.
como já te disse antes, você faz a gente aproveitar o dia. :)
Parque Lage, jardim do MAM, café da manhã de rei na Colombo, passeio pela Lagoa de Freitas, se perder nos livros da Travessa e comprar algo bem carioca na Visconde de Pirajá.

 10 nov, dom 10h34




diário de mãe. 
#10

cinco meses e vinte dias. você acordada no quarto ao lado. sinto sua respiração forte, seus movimentos, me seguro escrevendo pra você para não aparecer, assim tento ...tento te dar autonomia. esse processo que é nosso. a nossa autonomia, juntas caminhamos. eis aqui esse sambinha, feito de uma nota só : amor.  outras notas vão entrar (confiança, aprendizado, limites) mas a base é uma só: amor.
 juntas, vamos aprendendo a viver. e é por isso que vim aqui, pra te contar das coisas que a mamãe tem se envolvido porque você me deu as mãos e me levou até lá. nosso grupo de  estudos,  teórico & prático e afetuoso. experimentação, vivendo e aprendendo. é assim que ele se chama por enquanto. e cada dia tomo mais gosto por esse nome tão convidativo. nós duas temos tido semanas intensas e cheia de atividades por conta do nosso grupo, que aos poucos vai deixando também de ser um bebezinho, criando cara e vínculo com os demais envolvidos. somos um grupo de pais, crianças e educadores. com vontades e máximas. de um mundo mais legal pra nós todos. mas sim, já entendemos que pra mudar o mundo o trabalho é aqui dentro. a gente muda, e consequentemente o entorno. eu trabalho, você trabalha, eles trabalham. é uma trabalheira divertida e amorosa. e eu estou feliz de estar justamente aqui, onde estou. lendo sobre educação livre, deixando a teoria me engolir e ser engolida de volta. pra-ti-car. en-ga-ti-nhar, cair e levantar. juntas, caminhando.




tivemos alguns avanços que eu gostaria de relatar:
na sexta-feira (01.11) no Mamusca, na nossa reunião de pais, você ficou com as crianças pela primeira vez. já familiarizada com a Bianca, saiu do meu colo no café e foi no colo dela para a sala de brincar e de lá não voltou mais (o combinado era que se você chorasse, voltaria rapidinho pra ficar comigo na reunião dos adultos). você não chorou. você brincou com a Tereza (3 anos) e ela foi a sua mãe na brincadeira, assim me contou a Bianca. você, riu, se mexeu bastante, foi do colo pro chão, do chão pro colo e as horas passaram e nós duas nem vimos. foram duas ou três horas, e assim nossa manhã de sexta feira ganhou um significado outro: entramos numa nova fase. :)

   (você sendo a filhinha da Tereza)

nessa mesma sexta, `a tarde você ficou com o seu avô, e eu fui caminhar sozinha pelas rua harmonia (olha só outro nome sugestivo). encontrei a papi pela rua e tiramos o atraso da conversa de comadres. voltei depois de duas horas e fui recebida por você com um sorriso e um convite para plugar no meu peito: - pode vir filha, ele é todo nosso.


 
ontem (04.11) no nosso encontro na casa da Marina, você novamente ficou com as crianças, tocando um chacoalho enquanto o Angelo tocava violão.

 (você tocando com o Angelo, Marcelo, Isa, Jorge e Ana)
 
 confesso que senti sua falta! mas te observava de longe. em algum momento você virou de bruços, mas um bracinho ficou preso. eu já estava bem pertinho, você chorou e eu tentei dar um tempo para você se entender com o seu corpo (abordagem Emmi Pikler, menos intervenção possível). você continuou chorando e eu:
1. me julguei por deixar você chorando
2. não acreditei que você pudesse virar sozinha
3. fiquei pensando até que ponto conseguiria suportar sua frustração  e a minha, de te deixar desconfortável, de não acreditar que pudesse virar sozinha, então... me desconectei...  e fui te ajudar. 
você chorou mais no meu colo, te dei o peito e você acalmou.
no fim do dia, fiquei com  a frase do Holt, ecoando  pra mim: - confie nas crianças.

e aqui te faço uma promessa:  confiar em você na próxima virada da tua vida.
estarei ali ao seu lado, pra te dar apoio, mas a virada é sua, meu amor. 

e juntas, vamos: vivendo e aprendendo.

05 nov, ter - 9h03






diário de mãe. 
#09

São Paulo, 03 de novembro de 2013
Parque da Agua Branca - 13h54


o primeiro beijo a gente nunca esquece





diário de mãe. 
#08
 
dente do ciso arrancado + bebê plugado madrugada toda querendo peito, peito, peito + bebê chorando com qlq ameaça de desplugar do peito + dieta a base de líquidos + sonhos com fatias generosas de torta de chocolate = a vida real é bem alucinógena e dá barato,  podiscrê.
30 out, qua - 7h34



diário de mãe. 
#07

ontem você viu nascer um bloco de carnaval, 
o (filho) bastardo.
justamente aquele turma toda do bloco que fez você sacudir todas as noites de 2013, quando você pesava por volta de um kilo e chutava muito quando a mamãe parava de pular.
em toda a minha vida, nunca tive tanta energia para ser uma foliã dia e noite, os quatro dias, nos quatro cantos de um carnaval como esse que passou. as pernas cansadas, de me arrastar entre a multidão, carregando você que era tão pequenininha mas geradora de tanta energia, era uma alegria descomunal. foi nosso primeiro carnaval (de muitos que virão!). você recebeu bençãos e axés da bateria que vibrava feito seu coraçãozinho acelerado. a barriga da mamãe ganhou beijos de piratas, odaliscas, bêbados equilibristas, dos foliões  que passavam por nós nas esquinas da praça, entre as ruas da vila madalena: velhos, novos, grandes, pequenos, fantasiados ou não... mas todos diziam: - esse bebê é do samba!
e não por acaso, o primeiro trechinho da marchinha de ontem, repetido freneticamente por todos dizia assim: n a s c i  f o i  d e  u m a  f a r r a  b o a.

essa farra minha filha, agora é nossa. do seu pai, dos seus amigos, da sua cidade que não tem mar, mas tem os seus encantos mil. e pode acreditar, vira mar de gente na subida da cardeal, em noites quentes como foi o nosso  primeiro carnaval.
 pra você desejo não só os 4 dias mais esperados do ano, mas o carnaval o ano inteiro. uma vida cheia de som, suor & samba. como diz nosso Galinho : um desfile que não tem desfecho. um samba sem fim.

farra eterna é te ter. me faz ser, 
outra, maior e melhor.



na foto seu pai e eu, no último dia do carnaval, em cima do minhocão. você lá, você aqui.
28 out, segunda - 8h15




diário de mãe. 
#06
o dia entrando pela janela e a sensação que a noite ainda existe, um sono leve & diário, um tal de sono que nunca se apaga, braços adormecidos que permanecem na mesma posição all night long, peitos de fora e uma tosse que vem e vai, camisola molhada de leite que espalha pelo lençol, um chorinho de hora em hora, um "encaixe perfeito" noite adentro de boquinha e mamilo, um suga-suga que te deixa alerta mesmo de olhos fechados, mesmo sonhando com vidas passadas. um acordar `as seis e meia da manhã com um par de jabuticabas olhando fixamente você. de certo te admira, curiosa. talvez ache graça do nariz, orelha, da boca, do leve movimento da respiração. acordar e pensar: por quanto tempo ela me observava em silêncio? por quanto tempo fui seu objeto de curiosidade? o que se passa por dentro dessas jabuticabas brilhantes? e de que importa a vida sem sonhos profundos, com um acordar tão potente como esse?
15 out, terça - 7h15



4 meses: de 4 por você
























































  

oi tralalalalala-ô. 



e assim você me olha e se acalma.



 são 4 meses de você, de uma vitalidade única. você me leva para passeios incríveis, e me faz novos amigos. por você me envolvo em rodas sobre criação com apego, educação livre. sigo pesquisando a minha criança ferida, a minha infância, pra me libertar do que fui, pra te dar novos e maiores horizontes pra (seu) nosso futuro ser cada dia mais amplo. por você eu me amplio. você me ensina, você me ensina, você me ensina. 



 essa vida nova pulsando. 



tum-tum, nosso coração.



num corpo diferente que amamenta, que sente dores nas costas, que acorda cansado e satisfeito. a noite ainda tão delicada, com sono leve e algumas insônias. 



mas o tempo é outro,



e a vida é nova. 



diferente. 



me sinto toda diferente e ainda me re-conhecendo. 

03 de out - quinta, 11h40






"Logo que nascemos - e `as vezes até antes - nossa mãe determina "como somos" . Assim, as lembranças se organizam, em nossa consciência, por meio das palavras que ouvimos desde a mais tenra infância. Toda família tem a boazinha, o estudioso, a ovelha negra, o malvado.... mas até que ponto esses rótulos refletem quem somos? A metodologia da construção da biografia humana - é um trabalho de tecelã em que a pessoa reconstrói sua história não com o discurso daqueles que a cercam, mas com autonomia e discernimento. Uma jornada de autoconhecimento, desvendando experiências infantis que não estão racionalmente organizadas na consciência .
Esse mergulho interior é duro, dolorido, mas o potencial de crescimento que advém dele é capaz de transformar por completo aqueles corajosos o bastante para enfrentar o processo."
 
o poder do discurso materno, laura gutman









#enquantoeuamamento rola um carinho `a três.
31 agosto, sáb 7h20
diário de mãe. 
#05
 
então aqueles sonhados  e famosos 3 meses que todos comentam, chegou aqui na nossa casa. amora completou 3 meses e tá mais pra 4 que pra 3 enquanto escrevo esse relato, dia 8 de maio, domingo, seis e meia da manhã (é, eles dormem lá na nossa cama e eu aqui, sentadinha no futon do quarto dela me encontro acordadona!, nem posso colocar a culpa no bb). domingo que vem completamos 4 meses de mãe & filha no mundão. pois bem, outro mito caiu por terra: que com a chegada dos 3 meses tudo melhora. ok, amora não é mais aquele bebezinho que quando está acordada só chora. ela aprendeu a sorrir por volta dos dois meses, e isso sim fez uma diferença tre men da. estar com um bb que só sabe chorar, mesmo sabendo que é a sua única possibilidade de comunicação é fueda. estar com um bb que chora, mas que sorri quando está satisfeito e sorri pra você, e mais, sorri pra te deixar feliz (sim, ela é esperta e sabe que sorrir nos agrada e se utiliza diversas vezes dessa técnica!) é ma-ra-vi-lho-so. a gente passa o dia esperando aquele sorriso. na real, os 3 meses é lenda porque eu não estou dormindo melhor como todos dizem, ela continua acordando várias vezes na noite e te digo mais: de uns vinte dias pra cá até mais!!! são ondas, gente. vem e vai, melhora e piora, como tudo na vida, uai. dá três passinhos pra frente, depois dá marcha ré e regride... e mais, como aprendi com as minhas outras amigas mães, mais velhas e feras: os famosos saltos de desenvolvimento do bebê. ela aprende coisas novas e fica tão empolgada que agora sabe gritar e resolve gritar a noite toda. já sabe que eu sou a mãe dela e se não está no meu colo, chora. me requisita muuuuito, muito mesmo. só sossega no colo da mãe ou do pai. antes, os colos dos avôs, tias eram mais quentinhos e saborosos. agora minha filha tá que tá espertona e só quer o quentinho do papai e da mamãe. é um misto de orgulho, amor e ao mesmo tempo mais demanda, mais requisitação e mais  entendimento que o processo é muitíssimo longo, esse processo de separação que eu já sei que vai doer talvez mais em mim que nela. 

ontem, na cama, vendo ela dormir esparramadona e gostosona ao meu lado, sussurrei pro guto: - amor, já estou com saudades do bbzinho que ela foi.  .... sim, elatem 3 meses, mas sim, ela tem 3 meses! ela cresceu 10 centimetros, já está o dobro do peso de quando ela nasceu, já tá uma moça bebê. ela já é outra, bem outra. é uma really revolution, baby. que coisa maluca e abençoada é ter um bebê no pedaço, minha gente. 

a gente já é bem outro também. crescemos muito como pai & mãe! acho que nunca mais vou esquecer a mala dela numa viagem! , coisas que pareciam tão complexas como descer os lances de escada com o bebê + a mochila dela de todo dia (fazer a mochila dela de todo dia com fralda, trocador, roupa de troca, cobertorzinho, etc), pegar um táxi com toda parafernália, almoçar sozinha na rua de sling, frequentar exposição, teatro (sim, já estreamos no teatro!:), fomos ver a peça da bel e ela foi incrível, dormiu gostosa no sling!), cinema... tudo ficou fichinha e a gente tá craque. então vem os novos problemas. os novos desafios. tudo é novo e diferente. tudo é mais intenso com ela, nosso adorado furacão katrina.


diário de mãe. 
#04

 10 das 1001 coisas que tenho aprendido com ela

1. arrastar os móveis da sala e dançar um pouquinho todo dia, antes de dormir pra relaxar e ao acordar, pra inspirar o novo dia que chega

2. reivindicar carinho com todas as forças e pulmões. só parar de lutar, quando conseguir exatamente aquilo que se quer

3. sorrir só quando tiver vontade, e não para agradar os outros

4. a solidão é boa. olhar pro teto sozinha por longos períodos pode ser tão legal quanto ficar no colo da pessoa que a gente ama

5. se divertir no banho, soltar a voz, dar gritinhos, brincar com a água e secar pelada no sol é terapêutico, o bom humor vem que é uma beleza!

6. paciência com os outros. quando parece que você não vai aguentar mais, surge um sorrisinho no canto da boca, ou de repente, adormecemos juntas. é "só" ter paciência! 

7. pode ser bem legal acordar na madrugada, se encararmos que é mais uma oportunidade pra trocarmos afetos com nossos amores

8. e também pode ser muito legal acordar cedo no domingo, assim temos um dia inteiro pela frente de descobertas

9. ela me leva ao parque. me faz fazer novos amigos na rua. me faz esquecer um pouquinho de mim pra pensar no outro

10. me deixa viver o aqui e agora. sempre. é agora. é sempre agora
 e não existe o amanhã.  (não meeesmo!!)



diário de mãe. 
#03
  
nunca sonhei em ter filhos, sempre gostei muito de viajar, morar em lugares diferentes e me sentir livre, tinha um ideal de liberdade que não combinava com o modelo-mãe (na minha cabeça). quando completei 30 anos, pedi aos céus algo que me fincasse no chão, que me fizesse mulher de verdade. nessa semana do meu aniversário, eu engravidei. encarei com dificuldade a notícia, mas também me pareceu uma resposta ao meu pedido. hoje acredito que foi isso mesmo. tive uma gravidez com todas as náuseas e sensações presentes, e uma vitalidade única. amei estar grávida e trabalhar minha cabeça e coração para a chegada dela. passei a pesquisar sobre, e re-encontrei a Ana Thomaz que passou a ser minha doula/mestra nessa jornada. meu parto foi natural, em casa, com a ajuda da betina, da ana e do guto, que entrou na piscina comigo e me entregou a amora. e desde esse dia, tudo mudou e muda a cada instante com a presença forte e poderosa de um bebê nas nossas vidas. já não sei o que sou e o que serei. hoje sou a mãe dela com todas as minhas forças, o "melhor título" que tive até hoje, e fico pensando porque tinha tanto medo de ter filhos, sendo essa a experiência mais forte que podemos ter nessa vida. a mais verdadeira. a mais difícil e mais bonita. ainda me emociono com tudo que vem dela, cada cocô, cada vômito, sorriso, choro, espasmo. ando completamente boba, alucinada, ocitocinada. essa vida de mãe que não é nada cor-de-rosa e sim, cheia de cores, muito mais que 50 tons de cinza. enfim, estou inteira nessa experiência. e agradeço todos os dias essa oportunidade que ela me dá.



diário de mãe. 
#02

amora tem 3 meses. meu marido é músico e ator, trabalha na noite. eu sou artista plástica, sou autônoma e faço minhas horas de trabalho, sempre fomos um casal que gosta de estar na noite (apesar de eu adorar o dia também!), inclusive nos dias de semana por não termos o compromisso de acordar cedo. obviamente que balada forte faz muito tempo que a gente não faz, mas gostamos de estar com os amigos em casa, na casa deles, no bar, no boteco, etc. desde que ela nasceu eu "quase" não me privei de nada, acreditando que a saúde dela também depende da minha saúde mental. eu enlouqueceria se tivesse que abrir mão de tudo, assim. pois bem, amora não larga de mim e eu não largo dela. não temos babá, nem empregada, ela dorme na cama com a gente e criamos com apego. onde a gente vai, ela vai com a gente. então Amora já foi jantar fora no japonês, já foi no bar no dia do meu aniversário, já foi em open house em casa de amigo e estreiou a cama da casa dele, já foi em aniversário na casa da amiga e dormiu no sling até se acabar e frequenta shows na casa dos amigos. realmente talvez não seja o ideal para um bebê, mas é o ideal para o nosso bebê. essa é a nossa vida e ela a nossa filha, protejo-a da maneira que posso e também apresento nossa familia pra ela ( que são nossos amigos). no dia do meu aniversário percebi que foram muitos estímulos pra ela...mesmo indo em um bar pequeno perto de casa (sagarana) e reservando uma boa parte do bar para os amigos, ela ficou agitada com tanta gente, colos e carinhos. queria dormir e não conseguia. então, a festa acabou e fomos pra casa. tento ficar bem atenta quando estou na rua para perceber o momento dela de ir embora, o seu limite. e assim temos feito. ainda é cedo,eu sei, mas ainda não tive vontade de sair sem ela. e nem quero! por enquanto essas saídas com ela tem deixado nós três felizes. 




diário de mãe. 
#01


sobre pediatras:  aqui tivemos o acompanhamento de uma pessoa ótima que veio em casa no dia do parto, e ela é uma figura incrível, gostosa, simpática. quando voltamos no consultório pra primeira consulta da amora, saí um pouco frustrada. conversamos de mil assuntos, foi uma conversa boa, legal, mas uma conversa que eu poderia ter no bar, ou na padaria com ela. sobre a minha filha, falamos cinco minutos, já que estava tudo bem (ainda bem!) e tudo era respondido com : "ah, isso é normal. ah, isso todo bebê tem. ah, isso é normal". na segunda vez foi a mesma coisa, e comecei a achar um pouco cara aquela conversa boa nossa pra ouvir que tudo é normal. que bom que tudo tava bem, mas se tudo tava bem, por que ir ao pediatra? Comecei a me questionar  com o guto e comecei a perceber que o pediatra para um bebê saudável é mais para os pais do que para os bebês. então, tentamos uma consulta com outro pediatra conhecido por suas questões filosóficas e analíticas sobre o bebê & família. realmente, foi mais uma sessão analítica para mim do que outra coisa. até chorei e me veio essa sensação de que não adianta eu querer um "aval" de um profissional sobre o meu bebê, pois eu mesma sei muito mais dela do que qualquer um, e apesar do medo que isso traz (e da responsabilidade e tudo mais) é isso mesmo. E mesmo lendo isso num monte de lugar, e tals... foi só ali, na sala com o pediatra bãnbãnbãn que essa ficha caiu de vez.








é urgente
é sim, é sim, é sim

da única certeza que temos: do nascer e morrer
desse momento tão radical das nossas vidas

é urgente
é sim, é sim, é sim

das escolhas da mulher, das decisões da família,
 do caminho do ser que chega ativo e participativo

dos enganos, da falta de informação, 
do ser levada a um lugar-comum que não é o lugar que você(s) merece(m)

é urgente, é sim
é um tema que diz respeito a você e a mim.

#orenascimentodoparto


vá ver,
ainda está em cartaz 

é urgente.
pra você que nasceu, 
pra você que pariu,
pra você que quer gerar uma vida.

é sim, é sim, é sim.




(pelo direito de  sermos respeitados e  donos da nossa escolha consciente)
21 de agosto quarta, 8h39








(amora e seu berço. aquilo que ela nunca usou)


a partir do momento que você vira mãe ( e isso vale para quando o bebê está na barriga também), é incrível como sempre tem alguém com uma dica pra te dar, um "jeito certo" de fazer pra "consertar" o "jeito errado" que você faz. são mil leituras, mil sugestões de amigos e conhecidos, e às vezes até aquela senhora que passa na rua e quer te dar aquela dica preciosa pra sua filha. na maioria das vezes eu sorrio e agradeço, algumas vezes eu fico confusa porque a maternidade é a maior aventura que uma mulher pode ingressar, e as dúvidas e certezas estão sempre presentes - seu bebê te faz lembrar disso o tempo inteiro com suas requisitações eternas... e tem outras poucas vezes que eu perco o rebolado e fecho a cara. e é disso que estou falando e querendo compartilhar: a importância de acreditar no poder da mulher-mãe, na intuição que só nós sabemos o que é melhor para nossos filhos, na família (bebê - mãe e pai) que criamos, que existe, que se fez de amor e fez possível a luz das nossas vidas. a gente sabe SIM o que é melhor pra eles. e cada bebê necessita de um cuidado individual e amoroso, porque somos todos diferentes. minha pouca experiência me diz que o melhor pra minha filha é sempre mantê-la perto de mim, se possível no meu colo, (não é a toda a expressão "bebê de colo") que é onde ela se sente segura. e se ela dorme melhor ao meu lado, dormirá na minha (nossa) cama comigo, até quando ela necessitar. e se ela quer mamar o tempo inteiro, assim será, com todo e maior prazer do mundo, de vê-la feliz pendurada no meu peito o tempo todo, nutrida e forte pra enfrentar a vida futura. a gente se acostuma com o que nos dão. " - mas assim ela vai ficar mal acostumada". desde quando amor é mal costume? até nós, que somos "gente grande" gostamos de alguém por perto dormindo junto, precisamos do calor humano pra nos sentir seguros e quado a vida aperta, queremos o colo da mãe. pra mim a maternidade tem me ensinado essa tarefa difícil e gratificante: acreditar na minha intuição feminina e deixar de lado o mundo racional e cheio de regras que costumamos viver, me deixar um pouco (ou muito) de lado pra satisfazer os desejos e requisitos da minha filha e entender que a gente recebe em dobro quando se doa por inteiro. amor não tem medida, nem nunca terá.

4 agosto, 9h45 - domingo




1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 67 68 dias com você.






#1.

um pano preto
bicos do seio de fora 
um leite que escorre

em um dos peitos
amora nua mama
na mamãe de amora

um pano cai
bicos do seio (e todo o resto) de fora
um leite que escorre

em um dos peitos
amora coberta de pano preto
mama na mamãe



#2.

no meio da rua
do outro lado da calçada

no meio da rua
ali no centro da feira de domingo da lapa

no meio da rua
entre a moto preta e o scort vermelho conversível

no meio da rua
entre a calçada e o paralelepípedo

no meio da rua
na esquina da praça cornélia

amora mama
mamãe pinga leite no sutiã esquerdo
e o papai faz a barba no seu clécio.


#3.

a primeira  viagem da amora:

papai excitado
mamãe excitada
filhinha excitada

vovô & vovó excitados
manicure excitada, padeiro excitado, zeladora excitada

a viagem acontece, 
amora dorme 350 km inteiros enquanto os pais cantam as músicas do tatit.

descem as malas os pais excitados, 

a mala da amora
cadê?


 ficou em sp.










aproveitar enquanto todos dormem. 

são 8h26 e no nosso quarto, vocês. 

dormem. 

eu não, 
perco o sono, diariamente. 

aqui na sala estou, 

exatamente 8 dias atrás você também estava aqui, da minha barriga pro mundo. 

e foi assim que tudo aconteceu.

aproveitar enquanto todos dormem. pra contar, relatar, registrar, entender o inteligível.

o meu medo de não sentir as dores do parto. a semana que era pra você vir, e não veio. o tempo correndo, até o prego não aguenta mais o peso desse relógio.

terça-feira. 14 de maio 

chegamos em casa umas 22h30, pós encontro no consultório da dra.betina, com mais vinte grávidas e seus respectivos parceiros sobre o trabalho de parto. as dúvidas, como se dá, mitos e verdades. pegamos a  av. paulista livre e eu sentia as minhas eventuais cólicas e contrações, o que não era novidade para nós.

chegamos em casa umas 22h30. deitei e não podia continuar deitada. uma vontade imensa de fazer o xixi do mundo. um fogo quente na barriga que aumentava a cada instante. uma lágrima escorrendo. havia de ser verdade, não era mais um alarme falso. o trabalho de parto começou e eu tive a certeza que todos diziam : "quando chegar, você saberá".

tentar, em vão, manter a calma. entre o banheiro e o quarto, minhas roupas que caíam. 
ficar pelada, mexer o corpo, miar. sacudir a perna. entrar no chuveiro quente. pular, pular.  nada adiantar.

o trabalho de parto é dividido em 3 fases: latente. ativa. expulsão. (foi o que tínhamos aprendido horas antes) 

na fase latente você sente cólicas, pequenas contrações e pode informar a pessoa que está ao seu lado. mas isso dura pouco, porque depois a coisa começa esquentar e é impossível conversar quando as contrações chegam. é impossível ficar deitada também. você começa a andar, fechar os olhos e a movimentar o corpo de forma que consiga aguentar essa "onda vulcânica" que se instala dentro. 

e então esse é só o começo...

a coisa chega a tal ponto que o ponto é virar bicho. descer pro buraco, subir pras alturas, para cada mulher uma sensação, mas a sensação é sempre selvagem. é de uma outra ordem que não tem ordem. vai de oposto a todo o conhecido. é do mundo da entrega, intuição, da natureza, das nossas ancestrais. do fogo, da terra.

bem-vinda a fase ativa. e foi aqui que tudo começou pra mim. basicamente não tive a fase latente. tudo já veio forte como um furacão katrina.

xixi por todos os cantos da casa. baldes de vômito. ninguém te conta que o lance é super escatológico. enlouquecer. teu corpo já não é teu. teus sentidos se perderam. e essa sensação pode durar horas... mas você saiu do tempo/espaço. o tempo do parto é outro. você é outra.

a ana thomaz (minha doula/mestra nessa jornada) chegou por volta das 4h00. muitas massagens nas costas/bunda/coluna quando "a grande onda" da contração vinha. 
e eu já não sabia dizer o que sou/quem sou. era só sentidos. e nos intervalos de cada contração era possível deitar, fechar os olhos e aguardar o que vinha pela frente.

exaustão. meu olhar cansado encontra o da ana. ela me diz: "- vai amanhecer"
e isso me conforta.

vamos pra sala. lá está a piscina que o guto preparou. lá está a betina me esperando. é o momento de entrar na água, boiar, entregar-me. e lá vou eu. olho para os lados.... vejo meu amor de branco, lindo. vejo a ana, forte como uma leoa, me amparando. e vejo a betina, xamânica linda, me olhando fundo nos olhos. 

ninguém pode fazer por mim. mas os 3 estão ao meu lado. e isso torna o meu trabalho de parto possível, porém não menos assustador e difícil.

é tão difícil dizer o que não se diz, se sente. se experencia...

a luz havia chegado na sala. amanhecera. a betina me examinou, estava completamente dilatada. entrava na fase 3: expulsão.

agora era força. a mais animalesca das forças. minha menina sairia, em algum momento. horas ou minutos? eu faria o que fosse para adiantar o processo. !!!
força. força, força. era o que ouvia dos meus 3 amores.

em uma das forças eu ouvia: " isso, vimos o cabelinho!" tá perto!!!

na próxima força, eu ouvi: "isso, um pedacinho da cabeça!!"

eu não podia acreditar. via o tamanho da minha barriga de 41 semanas e 2 dias e pensava: isso não poderá passar. é impossível. 

mas eu seguia o comando que me davam: força adelita. força.

estava de quatro na piscina, que foi a posição mais confortável que encontrei naquele momento. olhei pra janela, e uma luz azul entrou. era uma manhã bonita. veio a onda forte da contração, senti que aquele era o momento. era uma força de desestruturação emocional/psíquica/ física. era a força das minhas outras gerações. a força das lobas. era choro e riso.

pude ouvir: "saiu a cabecinha! saiu o corpinho"

olhei para trás, ele
 - meu amor, meu amante, meu irmão, meu pai, meu filho...minha dupla nessa jornada da vida segurava nosso bebê nos braços...



amora veio ao mundo depois de 9 horas de trabalho de parto.
nasceu de braços abertos, 8h57 da manhã no dia 15 de maio 2013. 





>>> sobre os dias seguintes, pós chegada da amora:

um baile a cada dia - punk rock, valsinha, samba de roda, heavy metal e quando a coisa tá bem boa rola até uma ópera. é muito foda. em todos os aspectos. é um desgaste fisico e emocional jamais experimentado. tem que se jogar, ou melhor, você é jogado. furacão, terremoto, vulcão, katrina. só me vem essas imagens grandiosas. porque é selvagem e te tira do controle. porque é belo como uma coisa que não se explica. porque é difícil pra caralho. mas a gente se adapta. com algo não adaptável. é uma jornada, travessia. é tão bonito! me sinto rasgada como nunca. nua. as cortinas caíram. foi revelada a cochia. não tem pra onde fugir nem se esconder. mergulho
23.05, quinta feira 9h00















foi na virada do 20 pro 21. de repente o corpo moído de noites em claro já não me dóia mais,
o pescoço já não reclamava de tanto olhar pra baixo pra te enxergar no colo, acordei sem sono e com vitalidade, uma ironia. do 20 pro 21, algo mudou. que nem quando você não consegue de jeito nenhum esquecer aquele alguém e num dia qualquer, entre um café e outro, a pessoa vlupt!, some, desaparece, nem fantasma pra contar história. salve paulo mendes! o amor acaba na distração. e o amor começa sem ter enredo, parágrafo, travessão. foi assim com a gente. 21 dias. a contagem para chegar aos 3 meses que todos dizem "-aos 3 meses tudo alivia, o sono do bebê é mais profundo, você se adapta, blablablá". eu contava não só os dias, mas as horas pra chegada desse momento. de repente o dia 21 me fez perder as contas.calendário, pode ir pro lixinho debaixo da mesa - você não me é mais útil. tenho coisas mais importantes a fazer. ela. olhar pra ela. perder as horas olhando cada dobrinha, cada carinha, cada respiração embalada num sono profundo e chapante depois de uma bela mamada em mim. os dedinhos que se mexem e as promessas de vida - será uma pianista? maestra? dançarina? é gostoso imaginar coisas sobre você e as pistas que você me dá. não me importar com o seu corpo pesado que insiste em dormir em mim, e não no carrinho ao lado da cama. não sofrer com o seu choro no meio da noite, simplesmente aceitar que ele virá. que você me quer. e eu também te quero. de volta. dar, dar, dar e te receber em troca. meu choro já não é por não saber quem sou, por me fazer distante do mundo que conhecia do lado de fora da nossa janela do quarto. meu choro ontem ao te ver dormir foi um choro desesperado de conceber o milagre da vida. de te encarar de frente, hipnotizada pela sua beleza e tão pequena, já tão gigante! me emocionar com a sua morada ser o meu quarto. ser minha companheira de horas eternas. te fazer dormir e vigiar teu sono. zelar pelo seu momento de paz. torcer por você. me desdobrar inteira pra te fazer algum bem. é bom. me deixa boa. uma bomba de chocolate descendo pela guela. sensação de mãe. perdoem -me as outras,  - parir é fundamental.



só uma mãe pode sentir-se assim. e se reconhecer nesse tipo de depoimento melado.



vinte pro vinte e um,não basta te fotografar com a retina,minha memória no iphone só tem você. esqueceu o que vinha antes.uma antes, outra depois.divisor de águas. vinte pro vinte e um, entre o zero e o um, nós.vinte pro vinte e um,o recado do théo, pós mandar uma foto sua de mãe louca & boba assumida, que não basta te fotografar, tem que compartilhar: "dizem que amar  é dar incondicionalmente, sem querer nada em troca. dizem também que na arte é igual, é preciso exercitar essa generosidade de fazer as coisas sem querer nada em troca, o mais paradoxal é que quem "ganha" mais é quem dá e não quem recebe. mas isso precisa de muito exercício!" e agora, bem agora depois de uma escapadinha na sala, pra escrever um pouco o que anda transbordando por aqui, te escuto grunhir. você parece um gatinho. você me chama assim, e eu te atendo.






vou-me agora de encontro a você,
pra continuar nosso caso de amor.



(feliz 22 dias de vida, minha preciosa)




6 junho - terça, 6h58