você chegou de viagem e me ligou correndo





pior não me ligou correndo veio pra cá correndo sem saber endereço número do apartamento

fechou o olho e foi guiado pelo instinto pelo faro

e foi essa sua porção bicho que te trouxe pra cá

que nem gato que sabe onde tem comida e aparece quando tem

fome você sabe que aqui tem comida roupa lavada lençol perfumado

tem flor cheirinho e coisinhas de mulher-mulherzinha que eu sou faço o tipo sou sua

mulherzinha só sua de mais ninguém

e você sabe que é um jogo e finge que acredita faço comida

e te espero de banho tomado ouvindo beatles toalha na cabeça

então você veio correndo

desceu a rua augusta e virou na franca de olhos vendados sentindo meu cheiro pela

janela que deixei aberta pra

te guiar o porteiro te viu e abriu a porta nem pediu a senha porque a senha estava escrita
na sua testa estampada na cara

tava na cara que seu lugar seu destino
 final era essa casa
a rua toda já sabia desse dia desse momento todo mundo esperando

então você entrou
aqui nessa casa que você nem conhece

com uma venda nos olhos e foi tateando a cadeira encontrou um pufe no meio do caminho caiu 
riu levantou

achou o sofá sentou insatisfeito e foi me procurar na cozinha sentiu o cheiro do molho do macarrão ficou satisfeito

mas nem tanto eu não estava na cozinha voltou


pra sala tropeçou na mesa tateou a mesa encontrou uma coisa em cima da mesa

uma coisa quente
em cima da mesa

tateou cheirou apertou achou achou achou o que queria

em cima da mesa
uma coisa quente

eu estava aqui o tempo todo





você chegou de viagem tateou cheirou apertou achou foi fácil



sexta, 2h15



o que quer que exista
só existe no giro


quarta, 19h57



cabeça aqui












pé lá na mala



pelado o coração também viaja 
14 de julho quarta 9h26






fim dos dias

tantos outonos 

janela que se abre voa o que tem dentro

14 de julho quarta 1h36











a travessia vem aí

cair no mar ser pirata sem atamento tratamento medicamento só desabamento sem lamento cair no mar e não ser sereia ser pirata pilantra ladrão de meia tigela em cima da magrela quando for pra areia ser pirata ser ira ser pira até na mata atrás da moita
14 de julho quarta 1h00
























arranhar, destroçar, cortar em pedaços, destroçar, roer os ossos, lamber os ossos. destroçar até te tornar invisível. virar pó. poeira solta no meio da avenida floresta paulista selvagem . você poeira, confundindo a multidão com a poluição das motos, motores e máquinas. você poeira no olho do mendigo. você que gruda no cabelo da menina que atravessa a rua. você na calçada, poeirinha de nada que cola no asfalto, no calçado do homem de paletó. você que vem na minha boca de novo, eu que ando de boca aberta distraída. você poeira na minha garganta seca de sede de fome de vício de nada vício de instinto vida selvagem animal. você na minha boca vegetariana e mentirosa. você na minha boca que convence e mente. você, quer vir na minha boca que eu sei. e você vem e eu deixo. olha o bocão que eu faço pra te receber. boca aberta pra te consumir, esse você que eu criei, minha cria minha, hoje o lobo mau não é você. sou.

13 de julho terça 19h04
















onde esconde seus disfarces tantas faces tantos seus que são meus todos





um brinde e uma caída de queixo

e no jantar, no meio da torta de batata, nada mais banal e comum que uma torta de batata, e sim, acredite se quiser, no meio da torta de batata acho um bilhete:"um grito que alarmou a todos". o grito contido, abafado, engordurado de manteiga, cheio de camadas. o grito dela. só podia ser. o grito da clarice... então sabe o que eu fiz? tirei o papel, grudei no champanhe e tomei seu grito pra mim. de gole em gole. descendo pela garganta e se instalando no meio do peito. pronto. tá aqui ó. agora ele mora aqui dentro. tá bem guardado.
sim, acredite se quiser, esse champanhe é meu, esse papelzinho veio na minha torta de batata. do tipo de coisa que a gente só acredita vivendo. eu vivi. acredite.


um gole e uma nova caída









então, depois dos goles do seu grito, depois de beber ele todo, o meu suco mudou de cor. já não saberia dizer qual era o sabor dele. tudo mudou de tom e sabor. fiquei destemperada. ou temperada por demais. já não sei dizer se é o suco, ou o contato com a minha boca que fez ele ficar assim. e juro, esse suco é meu, esse champanhe é meu e esse papelzinho veio na minha torta de batata. acredite se quiser.
sábado 10 de julho 10h11





atravessando o túnel

teu deserto
me atravessa





poeira ao vento


nem bem veio
ficou dentro
alice ruiz

quarta 7 de julho 8h46











dá choque



choca
chacoalha


malha
molha


mata
até




no ato
ata-me

6 de julho terça 18h46










eu gosto muito das manhãs-madrugadas. o dia amanhecendo me chama, vem aqui adelita, vem ver pela janela a cidade se descortinando, a cidade que andava apagada pela noite e que agora não tem mais como se esconder. luz nela. foco na vida, céu abrindo, e o silêncio dá lugar pros pássaros cantarem.





é a manhã, manhã fria que eu observo feito fantasma com um cobertor nas costas. é a manhã que me chama pra ver esse mundão nu, sem defesa, sem escolha, sem esconderijo. é o que é. e é bonito. meu pai amava as manhãs-madrugadas. eu acordava pra ir ao colégio cedinho e lá estava ele com a mesa do café pronta, sentado na sua mesa dizendo: cheguei ao fim do meu livro. ele sempre começava um livro ainda no escuro, e o desfecho era dado quando a manhã se anunciava pelas frestas.


é sempre mais um forma de começar. pronto. podemos começar agora, do zero, porque amanheceu, é um novo dia, mil e uma possibilidades. podemos começar meu amor, tudo de novo.acordo sempre com fome. acordo com vontade de unir corpos.acordo com sede. acordo com vontade. acordo cheia de tesão. tudo pra mim funciona nessa luz inicial do dia.






é o terceiro sinal que eu escuto da coxia. é o momento de se jogar, de novo, nova, com mil e uma possibilidades de fazer diferente, reinventada. é a manhã que entra aqui dentro. respiro. suspiro. ai. bom dia. dia bom. há de ser!




6 julho terça 6h45


quando a noite a lua mansa
e a gente dança venerando a noite


cuida bem da tua forma de ser
amanhã o dia vai ser
diferente de outro dia




fim da tarde a terra cora
e a gente chora porque finda a tarde


hoje você me veio tão forte. você, sua amizade, e meu drama do passado. as duas coisas juntas, de mãos dadas. lembro quando te perguntei: - e agora, o que que eu faço com ele aqui dentro? você me disse sorrindo, seu sorriso de fada e olhos de leão:

desfaça-o em mil pedacinhos
jogue-o no mar

vá até a janela com ele
picotadinho nas mãos

deixe-o voar
pelos quatro cantos do mundo







e hoje, a sensação é que um pedacinho dele grudou no meu cabelo, feito folha que cai entre o verão e o inverno.
1 julho quinta22h45



uma situação ordinária,



que passa a ser extraordinária

desafiados:
Fê, Rita e eu
o plano:
uma mala de mão, cheia de flores desenhadas, linda e antiga, meio rasgando
coloquei alguns objetos dentro dela
um pôster do filme do Lennon
uma caixinha de música giratória
bexigas brancas
um massageador
uma tiara de antenas em formato de estrela
2 máscaras de lantejoulas - uma vermelha e outra dourada
uma máscara de dormir, que tem dois olhos abertos desenhados
o livro grapefruit da yoko
um baralho dos beatles
um vestido branco de mangas gigantes, de um metro
o encontro:
10 e meia da manhã, na virgílio de carvalho
o Fê tinha uma coca cola que dança quando a gente fala perto dela
a Rita tinha uns copos que com água desproporcionais faziam música
a estratégia:
abrimos a mala
pegamos o baralho,
pegamos o livro da yoko
a ação:
jogamos cartas, ordinariamente - tapão,
quem ganhava abria o livro e lia em voz alta uma instrução da yoko,
os outros dois tinham que agir de acordo com a ordem sugerida pelo livro,
extraordinarimente



e eu passaria a minha vida toda jogando esse jogo
chamaria todo mundo pra brincar, o mundo inteiro pra brincar comigo
eu passaria a minha vida toda sendo guiada pela viúva
eu queria um baralho sem fim e instruções eternas da yoko
e se eu inventasse uma religião, o grapefruit seria a bíblia















outra chance súbita de felicidade




diga-me onde sua liberdade repousa, eu escreverei um bilhete






liberte-me das razões


antes de você cair na inconsciência, eu gostaria de ter mais um beijo















música para embalar seus sonhos

é fácil:
dois encontros, duas vogais
dizem tudo, dizem mais




o a junta com o i
e forma o ai

e no refrão cantamos juntos:
ai,ai,ai.

26 de junho, sáb 17h03







eu olhei pra Lia
ela olhou pra mim,
e logo olhou pra baixo, pra si, para o corpo,
na altura do coração
com as mãos esticou sua própria camiseta, preta, 
de um modo que eu pudesse ver o que estava escrito:
"o coração mistura amores. tudo cabe."
silenciamos,
agora, olhos nos olhos






no são cristóvão, aniversário da Helena

sexta 19h18








sua lente me procura,
e me acha nua na rede

sua lente sabe exatamente quando meu coração desaba
e pula pra fora dos olhos,





































o pulso ainda pulsa, o corpo ainda é pouco



atravessamento

teve a presença da lia e sua risada catártica, a sofia no meu colo e nossa nudez, meu amor e admiração desabrochando cada vez mais pelo bijou e recebendo todo esse amor de volta, o tom dividindo a canga comigo, o miguel e seu ponto de vista genial, a beleza da bel, o galo o gongom e o nosso fernet e a nossa ligação que foi pra outra esfera. pílulas infinitas de amor. miguel alimentando nossos corpos e corações. olhos profundos de girinoco. teve isso tudo e outras coisas também. então eu cheguei em sp, e teve a minha cena, tirar todas as roupas do meu pai da mala, mexer no passado, se preparar para o futuro. teve isso também. teve estrelinha no meu caderno que o tomas colocou. aí teve o divã, a simone e o respiro. e depois a line no japonês que desandou a falar sobre nossa infância, sobre nossos carmas, nossas admirações e invejas. aí teve o aniversário da helena que eu tava morrendo de saudades, abracei tão forte essa minha amiga e quis tanto que ela soubesse o quanto que eu amo ela e sinto falta, maldita folha de são paulo que faz com que ela trabalhe tanto! teve ainda o recado da mamãe, o choro dela no domingo e o meu desabamento. mas então teve o outro recado dela dizendo que tava muito feliz, que me ama muito e conversamos telepaticamente. teve o guincho, ainda voltamos de guincho de camburi! e teve essa troca louca de emails e confissões com a minha irmã. e choro rindo lendo nossas cartas. aguenta coração. e isso é só o começo.
quarta, 23 de junho 9h00





mas aquela curva aberta, aquela coisa certa



um quê de dadá






foi longe pra nunca mais voltar

porque é necessário escrever um texto sobre tudo o que se passou e esse texto começaria de uma maneira incrível no meio teria toda uma história fantástica mágica e terminaria de um modo inexplicável como os dois pontos do Livro dos Prazeres ou então uma travessão vazia para a vida completar seria um texto que abriria as portas assim como me senti lá aqui nesse sábado portas que nunca mais se fecharão preciso de palavras para descrever sensações incríveis preciso é necessário colocar pra fora e eu nem sei por onde começar talvez não tenha começo nem meio nem fim seria uma performance isso uma performance não é mais um texto é um happenning acontecimento aconteceu é ação não é palavra e então eu mexeria o corpo de uma maneira fantástica incrível sem começo meio e fim furaria o chão com meus pés ao mesmo tempo que levitaria isso tudo ao mesmo tempo tudo junto omeletão na frigideira do mundo girando para lá e pra cá me sentindo queimada tostada e finalmente gratinada então eu seria a comida do mundo e serviria mil pratos invisíveis para bocas famintas pela eternidade comeríamos seríamos comidos devorados destroçados pra cima pra baixo para os lados e então sumiríamos sim sumiríamos e não haveria mais tempo espaço e direção todas as estrelas do céu caberiam na palma da sua mão direita sente as cócegas que ela faz na sua delicada mão sente pode sentir podemos podemos tudo eu vos amo pessoas eu vos amo odeio sinto raiva tesão e grunho feito animal desesperado somos animais loucos não somos vc vê a minha cara e consegue enxergar o monstro que sou o horror todo consegue sim eu sei que sim tem paz e tem guerra tudo junto no mesmo lado da moeda não tem mais sim e não tudo virou uma coisa só cara e coroa se fundiram a gente pegou fogo e se banhou na cachoeira universal ao mesmo tempo entramos de cabeça no vulcão somos um bando de hippies loucos agora a gente foi na essência e não bebeu em goles nadou nadou nadou eu tô muito louca e escrevo sem parar sem parar o texto a ação a performance o acontecimento happening sem parar não consigo parar é é é e pronto foi e agora é pra sempre feito tatuagem cravada na pele de bicho feito deus e o diabo na terra do sol com piece and love e george harisson no repeat do ipod foi assim mais ou menos assim


foi mais ou menos assim, foi assim mais e menos
22 de junho terça 8h55






maravilha vixe maria mãe de deus






um dia a Lia me descreveu, e eu chorei

Tô dentro, tô fora, tô dentro, tô fora. Aí entro com tudo.
Tenho tristezas, mas vivo de amor. A ele eu escrevo, performo, eu o leio.





Visto figurino e danço até raiar o sol, ou durmo e sonho em silêncio. Eu sou muitos verbos, em muitas conjugações.





Sou forte, sou linda. Não deixo passar, quero saber de tudo. O tanto é tão pouco, sempre quero mais! Ou então não quero nada. Tenho tristezas, mas vivo o amor. Eu sou coração e balanço, pai, mãe, irmãs, namorada. Sou amiga. Sou sorriso, olhar doído e colorido. Sou atriz na minha vida. Vida não tem sinônimos, tem laços, tem curvas e eu sou a estrada. Clarice; sou isso.






"Quero lonjuras. Minha selvagem intuição de mim mesma. Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita(...)"- Sou Água Viva.
Tenho em mãos meu próprio mundo, mas gosto de dividí-lo. Gosto de sentir e ser; gosto de amar. Quase não caibo em mim. Eu sou Adelita.


quarta 16 de junho 10h58








olha pro céu meu amor,

antes que passe









11.01.2008, rio de janeiro



havia um único fósforo na caixinha. ele apostou no risco (riscou). aquele único e solitário pedacinho de madeira ardeu em chamas.
queimou seu dedo pequeno, delicado, porém firme e cheio de intenção. fazia tempo que não sentia dor. mas não era exatamente dor aquilo.intuitivo, logo percebeu que era algo maior e mais difícil de explicar.

poderia ter algo maior que a dor? poderia. e veio então o susto (susto de amor?)

quando se vive algo grande, tão grande que não cabe no corpo, é preciso compartilhar. 
era necessário fazer com que a menina ardessetambém.

mas agora não dava para ser só o dedinho. ele queria o dedo, as mãos, os braços, o peito, o quadril, pernas e pés. queria o músculo involuntário que pulsa.


ela se debateu. em vão. apesar do medo, era fascinada por luzinhas, e nunca tinha visto um fogo assim tão de perto, chama quente estalando, pedindo, ou melhor: ordenando que a queimasse também. 

costumava ouvir sua voz interna que dessa vez lhe disse
"pode doer, mas vai valer a pena". viu que não tinha escolha. consentiu.

e o fogo subiu. pegou fogo, muito fogoos corpos, a casa, a rua, a avenida, a cidade.não havia mais controle. é preciso coragem para viver grandes coisas. e nenhum dos dois se satisfaria com pouco.
e quem via de fora, aquela brasa toda queimando, se fascinava, queria para si. e quem (vi)via de dentro (ele e ela), aquela brasa toda queimando, agradecia. meu deus, isso sim é vida.


(isso parece um sonho.
não, não é. a realidade é que é inacreditável)









exatos são teus olhos,
que invadem
terça 15 de junho 7h26





foi assim agora:
pensei de olhos fechados

abri os olhos, nada.
fechei os olhos, tudo.

abri, fechei, abri, fechei.

repeti essa ação por 36 minutos na madrugada até cair dura na cama.

suspirei 10 vezes em alto e bom som.



tomei um copo de água no escuro,
segurei firme o copo transparente com as duas mãos geladas

ouvi a canção que se fez dentro de mim

glub, glub, glub
pensei nos beatles

canções alucinógenas fizeram efeito no meu estômago


dancei deitada um frenético passo a passo comigo mesma

um pra lá, dois pra cá
dois pra cá, um pra lá

7 mil piruetas saindo do chão

suei mentalmente durante 1hora e meia
cabelo molhado grudado na testa

perdi 3 kilos de adelita
e fui ficando quase invisível, um nada







para os pássaros noturnos levantarem vôo em madrugadas geladas


qual era seu sonho de criança?







essa foi a primeira frase que eu achei. recortei. cola, tesoura, revistas, tudo em cima da cama. bagunça. tirinhas, palavras, cores, formas, imagens. tudo separado, tudo junto. o dedo cheio de cola gruda na tesoura e não quer largar mais. uma palavra solta cola por vontade própria no travesseiro. é a manifestação do acaso.


reviver essa tarefa que eu fazia quando criança. reviver por pura inspiração de me sentir borbulhando por dentro.


os sonhadores. eu, você, nós. essa frase, achada no cantinho da revista, com a imagem do filme do Bertolucci que encerrou minha colagem. fim.


sábado, 12 de junho, 11h19









o tempo rodou num instante



tanta coisa acontecendo de uma vez. juntinho. meu coração amanheceu pegando fogo. é o amor que me emociona, é a paixão que me dá frio no estômago. é o trabalho que mexe com a minha cabeça, é a pesquisa no Noir e as aulas do Tom que reviram meus sentimentos mais profundos. é a análise que me faz olhar de frente, botar o pé no desacelerador, pensar, refletir, questionar os atos impulsivos que são tantos.

mentira, já não sou tão impulsiva. o problema está no coração que amanhece quase sempre pegando fogo. 
ah, me sinto uma adolescente! devo ter uma idade mental de 15 anos, devo sofrer de algum distúrbio peter pan.


só pode ser. tô pensando. tô provocando. sonho, acordo. sonho acordada. me sinto viva. gosto assim. junho, mês bom, ano louco. demorou pra engatar. sem pai, sem Guru, de luto, sem vontade de viver.de repente, a vida, a vontade, mil vontades, os desejos, as descobertas, o mundo como um mistério tão delícia de ser decifrado, desbravado.
vida, aqui estou. você tem olhado pra mim, me convidado todo dia pra participar. tô me esbaldando. tô montando em cima! quero continuar assim, não quero ver essa roda gigante girar, tô gostando do ventinho aqui de cima vida.


sei que não dá pra dar um pause, sei que não posso permanecer pra sempre aqui de cima, mas na hora que você quiser fazer meu carrinho descer, aperte bem o meu cinto. as montanhas são lindas aqui de cima, vida. as pessoas também.
tá fresco aqui, tô me sentindo uma adolescente descobrindo o amor pela primeira vez. borboletas na barriga e papel de carta no colo pra bilhetes apaixonados.
vida, não quero pensar em problemas! só quero sentir essa brisinha, aqui. deixa vai. deixa eu ter de novo 15 anos?
vou ficar assim mais um pouquinho, tá?



e não me venha com culpas e cobranças, agora não. estamos em junho, e a brisa é boa. quando descer, vida, quando essa roda gigante girar eu vou aceitar sim, tudo bem, faz parte. mas agora eu não quero nem pensar nisso, nem me deixe pensar. deixa eu curtir o passeio.

um beijo, vidona, valeu sua malucona. gosto muito de você. eu piro em você. 
tô apaixonada por você tb minha vida amada. vou escrever no papel de carta sobre ti.esse texto é pra você com todo o meu coração. pegando fogo.
sábado 12 de junho 7h28










sim, você sabe de mim.







3h08

acender os olhos
abrir a luz
3 acordados no apartamento apertado

adelita, ulisses e lóri

adelita pensa sobre fidelidade
adelita pensa sobre a falta de sono
adelita pensa sobre si mesma
adelita se perde
adelita pensa: gatos sãos fiéis

adelita quer voltar a dormir
adelita sonha, sonha bastante
adelita se sente uma adolescente boba
adelita regride
quinta 10 junho, 3h14





1,2,3,4,5 segundos
de sustentação do seu olhar
1,2,3,4,5 mil coisas
extraordinárias
imaginárias
diferentes ao mesmo tempo







para sua fuga perfeita, fez um buraco na terra, caiu


perdeu-se no meio do mato sem previsão de placa de saída, gostou













por você eu ia 
onde o cavalo olhava
por mim eu cavalgava

apagar o abajur

dormir um pouco
abrir os olhos
sair da cama
tomar banho frio
comer granola
esquecer a luz acesa
comida para os gatos
janela aberta para entrar vento
ir para a rua augusta
ouvir beatles
passar frio
apertar o passo
táxi
club noir
um beijo de bom dia
desaceleração
me emocionar
chorar
rir
chorar
falar o texto da clarice
lembrar do papai
chorar
rir
chorar
receber um telefonema
ficar feliz
comer no quilo com a fê
táxi
vila olímpia
me emburrar
ver passar a tarde pela janela
ver passar a tarde pela janela do computador
itaim
deitar no divã
chorar
rir
chorar 
sonhar
questionar
divagar
comer um pão de queijo no franz
oi, tchau, boa noite meninas do franz
vila madalena
helena, carô, guto e quem mais quiser
são cristóvão
a noite
a madrugada
o sono
fim do diahoje, só amanhã
08 junho terça, 8h06


perto do alvo 

longe de mim

a idéia de atirar


Alice Ruiz
terça, 7h05 am







atirar perto de mim a idéia de




Before you go to sleep 

Say a little prayer
Close your eyes
Have no fear
The monster's gone
He's on the run and your daddy's here
3 e meia, durmo ouvindo você...







Every day in every way
It's getting better and better










terreno fértil. adubada para plantio e cultivo. pronta. está.






















só sou sol aqui dentro, solidão que nada








uma carta de amor da papi






tira o meu silêncio
é com você, minha amiga, que eu me abro, que me revelo como muitas vezes não me revelo pra ninguém. e não é porque você é a minha alma gêmea ou coisa que o valha; é porque você não me condena, não me critica, não me reprime. me deixa à vontade. me acompanha nas danças (e não nos bares, mas tudo bem, eu te perdôo). você não me analisa como um rótulo de remédio, você me escuta e eu te escuto. trocamos nossas confidências como se trocássemos de roupa: ficamos nuas, as duas, transparentes. você me tira aqueles segredos que eu mesma nem conheço. não tenho medo do que você pensa: sei que posso confiar na sua voz que não canta (porque você gritou isso hoje, no meio da aula, sua maluca! e eu adorei). um acalanto, essa coisinha.


06 junho, domingo 14h4




só consigo desenhar feito criança
o jeito de expressar o tal do amor



05 junho, sábado 22h08



de duas, uma: ou eu coloquei na cabeça e desceu pro coração,


ou nasceu no coração, subiu e agora não me sai da cabeça
03 junho, quinta 9h00








o olho enxerga o que deseja e o que não

tilt. deu tilt. só pode ser alguma peça fora do lugar. alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem que eu criei pra mim, no meu ideal. e de repente uma pecinha teimou em falhar, um parafuso entortou e a mecânica geral falhou. ou então foi feitiço. é isso. talvez tenha mais a ver com o lado sutil, talvez seja. talvez seja da ordem do inominável, do invisível, dos astros, dos búzios, dos signos. dos orixás, da combinação de planetas, do retorno de saturno, da merda da lua cheia. o feitiço virou contra a feiticeira. tira-me o sono. me deixa num estado de alerta. talvez eu seja mesma viciada nesse estado de suspensão. já dizia minha analista: o seu vício Adelita, é o estado que a paixão te causa. estudos relacionados a comportamentos apontam altas taxas de feniletilamina no cérebro de um indivíduo que está apaixonado. a alta taxa de feniletilamina estimula a produção de substâncias relacionadas a sensação de bem-estar com mecanismos de ação parecidos com anfetaminas. está associada também às sensações da paixão uma alta taxa de serotonina, substância química encontrada em grande número em chocolates e abacaxis. então seria isso Simone? ou são os astros, os búzios, os signos, os budas, os orixás, a combinação de planetas, o retorno de saturno, vênus em cima de mim? ou são os parafusos que entortaram? ou simplesmente um destino de corpos que devem se encontrar? tilt. só pode ser tilt. entiltei por aqui, viu. culpa sua. ou dos astros? do destino? de vênus na minha cola? de saturno me cobrando? do cupido delinquente? ah, meu deus.
quarta, 2 de junho 10h21







me mira mas me erra no escuro



um dia eu escrevi assim
dorme aqui ao lado e eu acordada desde as 8. você fala e me tira a palavra. o que fazia todo sentido antes da fala, se perde. você me tira a palavra. e o silêncio e seus olhos me acalmam. junto com a sua respiração pesada e seu pijama vermelho. acelerada. acelerada e sem paciência é essa adelita que me parece na maior parte do tempo. longe quando simplesmente tá tão perto, tão perto que não consegue ver. se ver, nos. ver. ver a ver dade que o que tem aqui, entre o pijama vermelho e o azul marinho é maior que meus anseios, medos, vontades, desejos. neuroses talvez. você me machucou, você sabe. eu te machuquei, eu sei. me arrependi, mas explodi. explodi e agora o silêncio. o silêncio, o teclado, a sua respiração, a minha cabeça, o meu amor por você e o nosso. amor. tudo aqui. você terra, eu ar. você dorme, eu acordo. você homem, eu mulher. eu dia, você noite. noite de lua cheia ontem. não gosto de brigar com você. eu gosto do dia seguinte da briga com você. gosto até do meio, adoro te ver falar , cuspir seus argumentos, e no meio do temporal te sentir tão perto, tão presente e rir por dentro, te admirar no meu silêncio.sem palavras, perdida, sem foco, te toco. você me tira a palavra e me faz segurar sua mão. você homem, eu mulher. você terra, eu ar. e pelo nosso amor que como você disse, nem sabe de onde vem de tão profundo que é, ter paciência e esperar passar. fases. ontem foi lua cheia. fases. você me tira a palavra ------
domingo, 30 de maio 10h57





toc,toc,toc. Sim, pode entrar felicidade.










   
Big bang baby,
it's a crash, crash, crash


mira, atira
leva a boca, assopra





quando anoiteceu
quem acendeu fui eu










na noite de lua cheia
meu segredo mudou de casa



zoológico, ilógico, logo sou

abandono. abandono do escrever para viver, do pensar para agir, do tentar para ser. quero tanto ser e de tanto querer, enfim chegar a algum lugar. um lugar de queda livre, sem fim, enfim, em mim. tô aqui em mim e agora não sei muito o que fazer com todas essas descobertas. minha analista me encorajou dizendo: - aqui onde você chegou, poucos chegam. hoje é um dia muito importante pra você. essa descoberta de si, assim, é muito corajosa. isso faz mais de uma semana. e então eu me calei. me calei aqui, me calei com os outros, porque aqui dentro tudo grita. grita. grita. e eu abraço, aceito, aceito. vem monstro, pode vir, pode sair, pode comandar. vem, vem, você tanto que eu reprimi. vem, eu tô te alimentando timidamente faz um tempinho, atrás das grades, mas agora eu cansei de te manter preso, quero te libertar. vai. solto nas ruas.


Você, que está em casa um conselho vou dar
Feche as janelas, tranque bem o portão
Pois num dado momento sem ninguém esperar

Pode aparecer o tal leão

terça, 25 de maio, 19h49








eu tenho um amor guardado para um dia de seca inundar a porta da sua casa

eu o rego na memória, silenciosa e conservo-o molhado dentro de mim
no começo da madrugada, sem avisar, ele derrama-se assim na minha cama
eu fico só, com ele espalhado por aqui, fanfarrão 
bagunçando meu lar, meu lençol, meu presente, coração 
só me resta esperar esse carnaval todo passar
ele toureiro, eu flor no cabelo
nós dois no salão, puro furacão


seja do jeito que for, seja o que Deus quiser
te encontro no ano que vem da maneira que você me quer













a surpresa estava lá piscando no meu msn
senti frio, calor, vontade de chorar, de rir, culpa, compaixão, amor e principalmenteamor. o amor foi a luzinha piscando pra mim toda hora que você escrevia alguma coisa. mesmo quando você falou "a leoa resolveu aparecer". eu também me sinto leoa, e vc sabe. talvez por isso que a gente se identifica tanto, porque existe a necessidade de equilibrar essa leoa que mora dentro da gente e ser mansa ao mesmo tempo, feito gato manhoso. até dizem que somos irmãs. a gente ri disso. e a gente gosta. mas hoje foi preciso um afastamento de bairros (você deitadinha no seu quarto da Vila Madalena, eu fazendo hora no trabalho na Vila Olimpia), uma tela fria de computador que nos proteja, um espaço mútuo no fim do dia, uma combinação de coisas e sensações para nos conectarmos. re-conectarmos. pra gente urrar,pros leões saírem. tava na hora. o meu leão já tava achando que era gato. o seu tava berrando aí do outro lado. tava na hora de juntar os gritos. e de repente eu estava aí no quarto com você. te vi, mais que todos os dias, bons dias, bons almoços, me passa o suco, boas noites. te vi diferente e me emocionei.tô aqui. presente. e esse é pra você, que me lê em segredo e me faz feliz pelo simples fato de existir.



















quero te contar um segredo:
















eu sou uma pessoa má, eu menti pra você








talvez o tempo possa me livrar da culpa
que eu não sei se vem de mim ou da cruz de jesus














É sempre uma festa.
É o momento de andar a pé pelo centro da cidade e misturar-se aos bêbados, loucos e fanfarrões de plantão. Pegar o metrô de madrugada e cruzar os amigos, conhecidos, desconhecidos e trocar informações sobre o show que vai acontecer logo ali, na estação da Luz. Ou então entrar na Pinacoteca e se perder entre quadros e instalações. Sair de lá e ver a cidade pegando fogo, olhar no relógio marcando 3 horas da madrugada e sentir-se feliz, porque ainda tem a noite inteira, a manhã e mais um pouco para você aproveitar. É a momento de colocar o tênis, tomar um energizante e sair por aí sem hora pra voltar para casa. Eu adoro! Sempre encontro os amigos perdidos, os conhecidos e até aqueles que a gente conhece só de vista e nesse dia a gente se cumprimenta. Tá todo mundo fora de casa, nas ruas do centro, nas beiradas, nas encruzilhadas, nas esquinas. Tá todo mundo junto, na mesma, comendo da mesma pipoca. E nesse final de semana todo mundo é igual. Eu, você e o bêbado que mora na praça da Sé. Tudo bem, vale apenas por alguns instantes, mas a gente se olha e canta junto o mesmo refrão da música.... e isso vale. Vale bastante. Pra mim e pra ele. E quem sabe a gente se cruza no próximo ano?
É por essas e outras que eu amo a Virada Cultural.
http://viradacultural.org/programacao

quinta, 13 de março 16h40


porque eu só sei falar de amor, só isso me interessa mesmo, cada vez mais, o resto é blábláblá


lennon e yoko, meu casal preferido


And we all shine on
Like the moon and the stars and the sun
Well, we all shine on
Everyone, c'mon

ele sempre vem gritar na minha orelha
me faz acreditar nesse mundo lennon
te escuto sem parar, meu herói, meu super man
de você nunca me canso,
tô contigo, it's up to you, oh yeah!


















































































































































o amanhecer bárbaro pós show da trupe








a quinta foi até 5h30. a sexta durou até 10h30 da manhã no sábado. o sábado começou 17h00 e terminou na padaria, 8h30 da manhã. eu não sei o que se passou comigo, mas acho que tem a ver com o texto abaixo. alguma coisa acontece no meu coração, no meu corpo, na minha rotina, na minha desordem que me parece cada vez mais ordenada. estou feliz. me sinto contente, completamente contente, completamente. tantas coisas pra ver, tantas coisas pra realizar. e eu me sinto com força pro que tiver que vir. gosto das minhas companhias, gosto das minhas escolhas. feliz com o meu amor. ainda não feliz comigo, mas esperançosa. muito, muito esperançosa com essa vida louca e sábia. tempo rei, ó tempo rei. um beijo na mamãe ontem, um beijo caprichado, rápido e cheio de amor. pra minha mama, mãe coragem.

para ver melhor a lua, para a rua poder entrar

para quem curte o sol, para quem quer se soltar


para que as plantas todas aos poucos possam se aproximar



as fotos são da Julia, a letra é da Trupe Chá de Boldo, a casa é do amor, os amigos do peito e a manhã é do mundo. manhã do dia 08 de maio de 2010, manhã de Sol para quem quebrou as paredes.




Rapte-me adapte-me capte-me It's up to me coração


eu não sei ainda o que tá acontecendo comigo mas alguma coisa tá.

tá que tá. e é coisa boa. tô sentindo no fundo da minha caixa interna onde mora a intuição feminina.chega de tempos de fazeção. fazer isso, fazer aquilo, estudar ali, curso acolá. fazer por fazer, ir por ir, viver por viver. não senhora.



agora eu sou outra e não preciso mais ocupar o meu tempo porque o tempo me machuca. agora não. agora quero fazer o que realmente importa. eu ainda não sei. mas vou dar espaço tempo carinho para isso.



no silêncio por algum tempo pra coisa brotar e florir. espalhar. feito erva daninha. é isso. quero algo feito erva daninha, que me contamine por inteira, como veneno doce de escorpião. daí eu espalharei pelo mundo esse veneno todo feito vampira, pelo pescoço, de um por um, sem volta.e novos vampiros surgirão. será um enxame de vampiros loucos e sedentos por aí. de mel, sangue, arte, amor e violência.




sim, temos violência também. aos desavisados,cuidado. é mais ou menos isso.








eu sonhei com um avião vermelho


uma passagem. troca de moedas. um rombo na poupança. negociação no trabalho. xaveco na chefa. de olho no xerife da alfândega. mala vazia. amor na mala? horas e horas de vôo e alguns dramins no drink. estrangeiros, mil estrangeiros. estátua da liberdade. liberdade. pássaros, vento, táxis amarelos, gente, pessoas, multidão, estilos, mendigos, buzinas, fumaça, maravilhas, avista um mc donald's e se sente em casa. casacos, bicicletas, meias coloridas, japa, negro, branco, rap, executivo, gordos, gordos, gente elegante, gente maluca. quero ser um deles. já sou.

entro no táxi amarelo, calada. mostro o mapa. o táxi segue. volume máximo no ipod que toca caetano "mamãe mamãe, não chore a vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui". MOMA. multidão, fila do lado de fora. fera do lado de dentro. ela. marina. cheguei ao meu destino. aqui. uma mesa, duas cadeiras. uma dela, outra vazia. a minha espera. é aqui que eu quero sentar. ficar. permanecer. ser. fundir.

e eu nem olhava para trás


marina, eu também quero chorar





tropeça, cai, sacode a poeira e vai, vai,vai.


sexta 30 abril

ontem no show da nouvelle vague cantamos juntos, sorrindo:



será que uma coisa tão boa simplesmente pode não funcionar mais?

quinta 29 abril


serei livre, não como um pássaro, mas uma mulher que voa entre objetos de arte e amores carnais




eu vou cortar esse narizinho e expor na parede - ele disse olhando nos meus olhos no café do unibanco




uma pausa de mil compassos


para ver as meninas



e nada mais nos braços


entre a escassez e o excesso. excesso. excesso. excesso, então... a escassez. escassez interminável. tem dias que eu reclamo da escassez dessa vontade, mas hoje foi justamente o excesso dela que me invadiu o sono e me fez abrir os olhos arregalados no quarto escuro. respiro. veio que veio. desmedida. descontrolada. teimosa. selvagem. feito furacão. a vontade é. um mistério. que coisa. de onde vem? pra onde vai depois?por que permanece quando deveria partir? por que parte quando deveria ficar? vem dos lugares mais loucos, dos cheiros, dos olhares. desconhecidos. conhecidos até demais. vem do copo, vem do gole. vemdo prato, vem da fome. vem da gargalhada, vem da ironia. vem em susto, vem surpresa. vem gato mia. vem do amigo e do inimigo. vem do sim e vem do não. vem e vai, vai e vem. fica, fica. me tira o sono. me acende a luz. me dá de mamar. me coloca na cama de volta. me usa. eu deixo. apaga a luz escassez. me deixa a sós com meu excesso.




o encontro é também despedida.a volta. o lugar conhecido. o aconchego. o que é nosso. volver. a casa. o quentinho. o nosso lugar na maioria do tempo. o dia a dia, o cotidiano, a rotina, o que não é novo, mas a gente reiventa quando pode. o de perto, bem perto, aquele que a gente conhece os defeitos, mas também é aquele que nos ama com todos os nossos. de cabelo feio, de espinha na cara, mais gorda, mais magra. doente. chata. insegura. então chega a hora de voltar. ser. ser o que a gente é no quarto escuro. pra sair nunca tem hora. pra voltar sempre é tempo. a gente sabe onde é o ponto fraco, onde a gente desanima, o que nos faz mal. a gente sabe, sempre soube e mesmo assim continua a insistir. a gente acredita. voltar. voltar esquisita. voltar uma outra. voltar uma nova cheia de novidade na bagagem. quero voltar a ser aquela que fui lá. voltei a ser a que fez as malas antes de ir. voltar, sair, voltar. o trem que chega é o mesmo trem da partida. será? o encontro. o encontro ideal, o encontro real. o amor é cheio de destempero. as vezes azeda pra mais tarde acertar o ponto. 29 abril, quinta 08h48




uma pausa para buenos Buenos Aires

salir, salir. volver será outra história...até, 22 abril segunda 10h50


segredo sempre tá na testa



tá na cara, só não vê quem não quer


nove horas. olhos abertos. nove horas. meu horário. nove horas. nove dias. nove meses. nasceu. chora. não entende esse mundo. não entende de onde veio e pra onde vai. sente dor. sente amor. sente raiva. sente inveja. nove horas. acordo. nove horas. sozinha. nove dias de performance. nove meses de vida. nove anos de adelita. nove noites de amor que não acontecem. nove sonhos pela metade. meia dúzia de noves. meia nove. nove e meio. nova. é urgente uma nova de mim. uma nova e tanto. uma nove-la emocionante. uma no iva. uma nove lle vague. nó. nove horas e dezoito minutos da segunda feira dezenove de abril


















para os pássaros voltarem a cantar



saudade na presença. às vezes a presença é pouco, e o que eu quero acho que nem tem nome. porém, eu aceito e me rendo aos pés desse mistério de amor.
















me queimo, ardo
me inflamo quando me atiro vivo em tuas veias

seivas, suores, teu corpo um rio de fogo

em que me afogo sem pedir socorro a ninguém

tua língua, saliva, labareda que me percorr
e

por dentro, por fora, à margem 

até minha carne viva encontrar a tua carne flo
r

e finalmente eu for
um rio, um rio dentro do teu mar

guto e galo
15 abril 15h09




foto do théo, na cama da lau, deitada com a julia, palpites do guto, produção pro CD da trupe, a foto nem foi pro CD mas a gente se divertiu um monte nesse dia, foi no final de 2009 pra começar 2010 cheio de amor e tesão, a linda da júlia me mandou hoje por e mail e me fez lembrar de uma música linda que eu ganhei do vado outro dia e não parei de ouvir, tô ouvindo direto, sem parar, que é assim a tua boca me dá água na boca ai que vontade de grudar uma na outra e sugar bem devagar gota por gota veia-flor beijando a flor ou borboleta a tua boca me dá água na boca ai que vontade de rasgar a nossa roupa vamos pra qualquer lugar praquela gruta pra qualquer quarto de hotel praquela moita a tua boca me dá água na boca ai que vontade de gritar é uma bomba acho que vai rebentar desgraça pouca azar eu vou me matar na sua boca letra genial do itamar assumpção. viva o dia do beijo! e aí, já tem uma boca pra beijar? 





e de repente plimacabou a vontade de escrever a vontade toda a Vontade em maíuscula se foi pra algum lugar que eu não sei ao certo se escondeu debaixo da cama e lá está junto de teias de aranhas, pózinhos, ácaros, segredos, saudades, dúvidas, angustiazinhas, malandragens e feiurinhas se foi pra em algum momento voltar ou não às vezes vai de vez e não volta mais às vezes bate na porta depois de anos com uma garrafa de vinho na mão, cheirosa, elegante e já se apossa do sofá essa vontade essa vontade doida varrida essa vontade que às vezes diz não que tem dito ultimamente essa vontade que tem vontade própria essa minha, essa nossa essa que me leva de volta para o meu amor cachinhos para o meu amor menino para o meu amor que será homem um dia, e meu que será minha família bonita e cicatrizada, sem medo das feridas meu amor real de carne, osso e carne carne que eu gosto de ver desfilar quando sai do banho, quando sai de si carne bonita de ver no palco de longe, na coxia de perto carne minha a minha é sua eita vontade! só foi falar nela que ela apareceu! 13 abril 17h54




sob a minha cabeça a nuvem parou chorou floriu passou



são tantas as verdades preciosas

o fim da linha é o começo da mão





não me importa não ser compreendida
se for pelo erro do amor. o amor nunca vai ser um erronão me importa não ser aceita se o valor da aceitação foi porque amei demais. então que me tire mesmo da roda, que não me aceite. se você não aceita um amor exagerado, eu faço questão de não aceitar você tambémpronto, estamos quites. você não aceita um amor, e eu não aceito alguém que diz não para o amor. 1 x 1.quando eu amo, eu sou como o baioque do Chico, eu devoro todo meu coração, eu odeio, eu adoro, numa mesma oração. esse é o meu time, esse é o jogo que eu vibro, essa é a minha torcida, pelo amor exacerbado, jogado aos seus pés. é nesse estádio, nesse estado que vibra meu coraçãoviva a paixão cruel desenfreada. viva cazuza.viva timão. viva minhas escolhas, viva meu amores e todos as pessoas exageradas, loucas, que se jogam aos pés, que inventam o amor. viva as mil rosas roubadas. o tudo e o nunca mais. viva o tudo. viva o mais. até nas coisas mais banais.07 abril 11h23











I saw you this morning, you were moving so fastcan't seem to lossen my grip, ont the past

leonard cohen no meu ouvido,céus, silêncio, hoje não.

10h21 uma vontade de me expressar e um vazio nas palavras. um passado colado aqui, presente no presente, lugar de passado é lá trás, e hoje, ousado, ele se atreve grudar no meu presente, dia 06 de abril, manhã de chuva. sai pra lá passado fique no seu lugar. rebelde, desobediente, ele me aparece sem avisar, intruso, não bate na porta, entra pela frestinha da janela, inunda o quarto e insiste grudar em mim, fantasmão, feito capa de chuva grudada no corpo no meu dia de tempestades. processo, processo lento esse. ouvi uma vez numa mesa de bar, adoro essas conversas, perguntaram a um senhor o que salva o homem na velhice, perguntaram querendo saber o segredo do homem, ele respondeu " a memória meu caro, a memória", e é justamente essa memória cobra, memória que é o veneno e seu próprio antídoto que me salva e me derruba. me salva e me derruba. meu anjo e meu demônio. me salva e me derruba. 10h31 passaram dez minutos meu anjo. apareça. vem me levantar, vem. vem, vai. já tô derrubada, você venceu, bandeira branca amor, eu levanto esse pedaço de pano, não posso mais, tudo aqui foi invadido pelo danado do passado, que me invade eu peço paz, saudade, mal de amor, de amor salvar. 10h36.












Nobody told me there'd be days like these



quero escrever correndo antes que me escape. quero escrever gritando, como ele grita agora no meu ouvido, na minha alma, Instant Karma. quero escrever para ele, quero escrever pra mim, quero escrever pra nós. eu quero. eu quero tanto.eu quero tanto tudo e todos. e quero também ficar só. e hoje eu quis andar sozinha pela paulista, e sair correndo para ver um dos meus heróis. quis ir só, para ser só dele, inteira e pura, toda e simplesmente. well we all shine on,like the moon and the stars and the sun,well we all shine on,ev'ryone come on. então eu sentei lá, na poltrona escura, retirei meu sapato e me senti em casa. pensei no meu pai, pensei nos meus amores, pensei nos anos 60,70. nos anos 2010. Nos EUA, nos fãs dos Beatles que viveram essa maravilha ao vivo, no tempo real, na minha mãe entrando na igreja segurando um girassol ao som de Imagine. Pensei que eu sou filha dessa geração, pensei que tenho saudade do meu pai e queria levá-lo ao cinema hoje comigo. I wanna hold your hand.Sentaríamos na poltrona, nós dois para ver a estréia de EUA X John Lennon. E logo nas primeiras cenas a viúva aparece - aquela que ficou. A que sobreviveu, a que viu o marido sendo assassinado, a que sofreu ínumeros preconceitos, a bruxa, a má, a que acabou com o Beatles. A paixão do meu herói. A sua musa. Chorei óbvio, pensando nisso tudo. Chorei também quando vi a lua de mel dos dois - 7 dias na cama para promover a paz no mundo. Os dedinhos apontados para cima - piece and love, piece and love ( só agora me dei conta que o dedo do meio também é o dedo do amor) piece and love, power to the people, give peace a chance. Chorei pela beleza do amor, pela beleza do ser, pela beleza do artista, do homem, do amante, do pai. Também sou uma viúva, meus amores se foram. Chorei por mais uma morte, a do Lennon. Chorei por aqueles que nasceram nos anos 60 com uma invejinha de quem o conheceu em vida e sentiu esse gostinho. Chorei por perceber que tais pessoas não morrem. não morrem.não morrem. não morrem. essas pessoas vivem em mim. tantos não fazem mais parte de mim e vivem em mim.hoje eu fui ao cinema com ele. com você. com meu pai. e sozinha, completamente sozinha.all we need is lovetô preenchida Lennon, tô preenchida.









02 de abril 20h25




no tempo que eu era jovem, e não tinha amor nenhum












um parênteses rápido (engraçado que hoje eu cantei pra ele. na verdade, eu cantei pra mim. sempre que eu canto pra ele é um pouquinho pra mim. mas isso não vem ao caso - o que importa é eu cantei, cantei com vontade. e contagiei. cantamos juntos, trocamos olhares cúmplices e eu prometi que levaria ele ao ashram, que mostraria as outras canções indianas que fizeram parte do meu passado e que moldaram essa que sou hoje. essa que é sua. essa que é do mundo. essa que ainda é dele. essa que cantou uma canção em busca de um Guru. Um Guru que embelezou sua juventude e que mora num porta retrato ao lado da sua cama. O Guru e o pai juntos na cabeceira da cama. então ficamos felizes com a nossa canção indiana e nem notamos o trânsito da entrada da nossa SP depois de um final de semana no campo. distraídos, entramos pela garagem, felizes. distraídos, nos separamos em nossos mundos virtuais e tão SP.ele na TV, eu no computador distraída, abro um e mail um email que vem do passado, que vem lá de longe um e mail de terras estrangeiras, com notícias que geram dores no estômago. O Guru da foto se foi. sábado.provavelmente enquanto eu tomava uma caipirinha na beira da piscina.enquanto eu ria à vontade, de pernas para o ar, enquanto eu ria à vontade os meus amigos indianos, a India, aquele lugar onde eu fui a mocinha mais feliz do mundo em 2003, aquele lugar que toca minha alma e me emociona tanto, enquanto eu ria e bebia, aquele lugar e aquelas pessoas eram luto e tristeza.então eu me encolhi no quarto. em menos de 3 meses orfã 2 vezes. o pai carnal, o pai espiritual, o pai brasil, o pai indiano. o pai de sangue, o pai escolhido. os homens da vida foram embora. eu fiquei. eu tenho ficado. eu fico aqui tentando entender os acontecimentos todos e então nesses momentos de desespero sempre é a Clarice que vem sorrateira e precisa dizer no meu ouvido, viver ultrapassa todo o entendimento, sim Clarice, ultrapassa mesmo mas hoje foi um dia indigesto e silencioso por dentro, vou sobrevivendo com alguns arranhões mas a claridade é o que me interessa,fecho parenteses, 30 de março 00h52) porque a vida é breve











então eu descobri.
























porque sou curiosa, porque sou maníaca,obsessiva, louca, mas acima de tudo curiosa


muito curiosa.










porque eu amo e exagero, tudo junto.









porque eu extravaso no meu mundo secreto.


















porque eu sou assim, e por ser assim eu descobri.









já sei. já sei, meu amor, já tô sabendo de tudo.










quando soube, quando descobri, senti como um calafrio, um calafrio que subiu das pontas do pés até os meus fios de cabelo. esquentou meu corpo, acelerou meu coração. choque.




eu respirei, eu pausei.
eu respirei mais fundo, olhei para as mãos, suadas. juntei uma com a outra. 


olhei pra mim no espelho. me reconheci. sorri. sorri pra mim.











sorriso de cumplicidade da loucuraobsessão ecuriosidade que só eu e você, você - essa daí que olha no espelho e que se chama adelita sabe do que eu tô falando.

essa daí que sou eu. que às vezes se reconhece e se sente feliz por ser quem é - que consegue rir da própria desgraça que nem desgraça é. 

o que importa é que eu descobri.





















vou ser forte. é assim que as coisas tinham que se encaminhar, é assim que as coisas se encaminham não é?

tem coisas que terminam, tem coisas que simplesmente param.










e eu descobri! meu deus,











pela minha loucura, eu descobri.



















e foi importante, foi ruim e foi bom, foi vida.











porque vida é isso - boa e ruim, e curiosidade acima de tudo.



















então, eu tive sono. e dormi numa cama aconchegante, num momento aconchegante, numestado aconchegante.











num abraço de adelita para adelita, de corpo a corpo consigo mesma - aceito minhas neuroses, abraço elas, amo elas, e delas que sou feita, e delas que sou desfeita.



















vem neurose, vem para o braço de sua dona, vem sem medo porque eu não tenho medo de você.


26 de março sexta 20h52





nos segredos eu escrevo sussurado

no supérfluo eu grito


mas o meu principal está escondido em mim

e esse eu não revelo a ninguém





enquanto isso na manicure,










na escolha do tom ideal











de salto alto a garota verão mascava umrosa chiclete. fazia40 grausdesejoum passeio decanoacom ele - gabrielapensou. e no meio do passeio ele tenta um beijo-deixa beijar... ela deixa. desejo.dentro dela é purovermelho energia. gosto do beijo?morango silvestre









hoje eu sentei e pedi atrevida


enlouquecida com as mil possibilidades do
vermelho
 e seus títulos sugestivos








subiu p/o tellhado, volta já

no domingo viu a vida de outro ângulo
21 março 12h03




tem milhares deles na minha geladeira

sexta 19 março 09h34












poesia abandonada no lixo eletrônico da caixa de entrada
mofada, amassada, mal amada, desprezada
poesia abandonada deseja sair do papel e ser almejada
novos ares, novas cores, outras mulheres, outros odores

poesia falida, poesia concreta, poesia discreta, quase-secreta
poesia sacana, poesia bacana, poesia banana








quinta 18 de março 23h00 




você finge que não leu, que não comeu, que não gostou
que a vida
 vai indo,que
 tá tudo bem, que o tempo passou

que agora já era, que tá apressado, não chega mais atrasado

biscoito 
vencido, 
o café tá gelado, o embrulhoamassado










faz tipo, faz charme, faz firula, faz poseRose,
faz jogo, faz esquema, faz moleza, faz docetolice, Alice,

pra cima de mim meu amor?

meu amor...


em cima?


ok, pode vir!

quarta 17 de março 2hoo pm




então me veio uma vontade de escrever um texto bem bonito,um texto que falasse sobre deserto, solidão esaudade.
9h00












um texto que jorrasse de dentro de mim e que se
instalaria no fundo dos seus olhos.








9h01













um texto que te levaria a colocar uma 
música triste no seu quarto escuro e abafado, e que te levaria para passear em lugares secretos e não habitados.








09h03












então, esse mesmo texto te daria uma 
vontade incontrolável de me levar para passear junto com você.
9h04

























cada um no seu 
cavalo, depois em uma moto, numa bicicleta de carona, num trem sem destino pelas paisagens da India. andaríamos deteleféricocarrossel roda gigante no parque abandonado da cidade de Porto Alegre.

9h06












andaríamos de barco, metrô, ônibus, carona, caminhão e asa delta. andaríamos de cavalinho. de
 mãos dadas. ou não. às vezes olhando para os lados, para cima. para longe e para dentro. outras vezes em ritmo rápido, outras em ritmo lento. parados. deitados no chão. sozinhos. acompanhados.
09h08

então eu te contaria do filme de ontem, e clarovocê daria risada. me pediria para repetir a cena com você. eu claro, eu também daria risada. eu topo. topamos. então nós dóis correríamos pelados em direção a mais próxima praia na manhã deserta de março.
9h20

águas de março.








e seria o fim da canseira.
fim.
9h25







final 2 : então no meio disso tudo você poderia acordar e eu também. desligaria a música do seu rádio, sacudiria seu lençol. cada um ia para o seu banho, para o seu chuveiro, para a sua rua, para o seu destino, para a sua vida. e então feito mágica que eu não quero que acabe, a gente se encontraria no texto abaixo.
segunda 15 março 9h50m















fanfarrões

se por acaso no meio do cruzamento
entre Paulista eAugusta
buzinas e bagunças
eu e você, no mesmomomento
se por acaso, se a gente se cruzasse
eu te pegaria pelo braço
te colocaria no peito
e ai de você seescapasse

te tiraria do chão
bagunçaria seu nome, sua idadeinverteria teu sexo,plexo, sem nexo,seu cabelo, suaidentidade









e seria uma poesia, com fome, folia
entre nós, furacão, pés pele, tesão
te garanto,sem fimtristeza não,felicidade sim
sexta 12 março 9h17










escrever,apagar. digitar, deletar.


a vaidade da escrita, a vaidade da destruição.

ambos os fatos estão relacionados:

escrever e destruir, se esconder e ser descoberta.





















entre o natural e o selvagem












da minha natureza:

tem ratos e gatos
cobras e leões
peixes e dragões
passarinho que voa baixo
coelho trepa trepa
cavalos e éguas
pintos e camaleões










nasce rabo na galinha
par de chifres no cavalo
e bico rosa na raposa
encontra-se pêlos nesse peixe
pata nessa cobrae antena na coruja


tudo pra dizer que qualquer hora eu te acho sua besta,

e te como, te engulo, te destroço,
te caço, te mordo, te arranho,te pico, te ataco, te enveneno,
ass. seu cavalo alado dadaísta
terça 09 março 18h05





se ficar o bicho avança,se correr o bicho alcança.

terça 09 março 9h28









das coisas que você não sabe:
tenho vontades demoníacas que eu mesma me assusto com elas,
e prometo a mim mesma que não ficarei na vontade
não sou do tipo de mulher que passa vontade.








terça 09 março 8h36













e são nesses dias, nesse horário do dia, exatamente nesses dias, como o de hoje, como agora, como agora mesmo, que você vem forte e toma conta de tudo, me deixando sem ar.


sexta 05março 21h00












não, eu não resolvi todos os problemas. a geladeira continua armazenando gelo lá dentro, mas pelo menos o técnico foi lá ver. apertou atomada e ela voltou a funcionar. 09h00



eu fiz o meu melhor sorriso, e disse: ah, vá. sua visita não foi em vão - tome um suco, o melhor dos sucos. me desculpei, ele entendeu e foi embora.09h02



ele foi embora e eu fiquei. 09h02














fiquei aqui sentada na cozinha desse apartamento pequeno gigantesco com 2 gatos que soltam pêlos o dia todo e olham para mim perguntado sempre: e agora adelita? e agora?então nós ficamos lá, os três, um olhando para a cara do outro, esperando o tempo passar.09h02



tempo esse que tá muito horrível, então eu vou ao chuveiro e cadê a água quente. não, me tirem tudo, menos a água quente. mas essa também me tiraram. 09h03




então lá vou eu do banheiro até a lavanderia correndo pelada, os gatos correm atrás de mim, mexo nos únicos dois botões do aquecedor a gás, faço cara de inteligente e sabida na esperança de resolver alguma coisa. 09h05



passo de novo correndo pela sala, os gatos miam, entro no chuveiro - vamos meu Deus, seja bonzinho... 09h05


nada. 09h06


então eu pulo.pulo,pulo.entro na água fria e grito, grito bem alto. os gatos miam mais uma vez. e o frio vai embora, você vai embora do meu corpo, os gatos não me aborrecem mais e eu dou gargalhadas no chuveiro.09h07


penso que tomar banho gelado é um ato de coragem, subversivo eu diria. me sinto forte depois de tanto tempo. fico aguentando aquela água caindo com omaxilar bem apertado e o corpo enrijecido. olho para as minhas mãos e elas estão fechadas como se eu fosse socar alguém. 09h10



então eu relaxo. me entrego. deixo cair, deixo passar frio, deixo,deixo, deixo. e essa é a melhor hora. sem resistência, apenas permissão.tento ouvir o meu corpo e levar isso para fora do banho, para o quarto, para a calçada, para a vida. 09h12


hoje é sexta. meu dia de folga. 09h25 05/mar












Não basta ter amigos que te amam. Ter um amor que te quer bem. Não basta. Não basta ter umapaixão perdida na curva, nem o desejo de encontrá-la na próxima esquina. Um bom emprego, uma chefe generosa, um salário fixo e um horário flexível. Não basta. Não basta boas roupas, um prato quente e um trocado para a sobremesa. A beleza, a inteligência e o amor próprio. Não, não basta.



Não basta irmãos Coen em cartaz. Não basta o lançamento da biografia da Clarice, nem as aventuras do Bolaño, muito menos a agilidade do Carpinejar.Não basta. A geladeira cheia de queijo, pão sueco, yakult, chocolate lindt azul. Não basta. A bolsa anual na Bio Ritmo no conjunto nacional, não basta. As conversas com aCarô no telefone, as folgas de segunda e sexta do emprego legal que você tem. As reuniões dos novos projetos, as novas idéias, o novo, o novo, o novo. Não basta. Nem as fugidas para a sala de cinema, muito menos torrar o dinheiro entre a Augusta, Lorena, Aspicuelta, American Apperall, Antes de Paris e o escambau.Não basta. Livros, músicas. Nina Simone nem vem que não tem, nem você escapa, não basta.

Quando se tem tudo, mas você fechou os olhos.
Então o tudo vira quase, e o quase não basta.
Definitivamente.

quinta 4 març0 21h52










isso de querer ser

exatamente aquilo que a gente é.

e quando o que a gente é são muitas, milhares, em
posições opostas e incompatíveis, que nem uma vida toda daria conta pra tanto? aí é preciso escolher.maldição. 9hoo

e quando se escolhe uma e a outra não se conforma e fica lá dentro, batendo, pedindo pra sair, apertada, espremida, fazendo bagunça, tocando o terror, exigindo atenção, colo, água, comida,luz?

Rebelião.










Fogo na cela09h05


e quando você, esse seu corpinho sagrado que você chama de seu, quando esse seu corpinho é o próprio carandirú, lotado, abarrotado de gente, que armazena todas essas loucas vadias, perigosas, criminosas, pecadoras, retiradas da sociedade, tumultadas e se procriando lá dentro feito verme? 09h10


e quando você é a cárcere pervertida e aprisioneira maldita ao mesmo tempo?


tem tanto prazer em bater quanto apanhar? 09h15


e paga-se um preço caríssimo por isso.09h16


só você sabe. 09h18


então esse seu corpinho sagrado, templo divino de almas e multidões vai se esquilibrando como dá, cai prum lado, esquiva do outro, vai levando escondido esse mundaréu de gentes, vai dando um pouquinho de comida aqui e ali, alimenta quando dá porque ninguém gosta de morte, que isso, eu também não, ninguém quer matar ninguém aqui. 09h25


É só uma questão de falta de espaço. 09h30


e tem sempre uma que ganha não é mesmo? a vitória da vitoriosa é me guiar.


Me guie portanto, estou de olhos fechados, meu amor. você, que é forte e sabe o que quer, me guie. você que venceu milhares de outras que disputaram a tapas esse templinho, vamos, me guie. 09h40


já não sei mais quem sou. 09h40


quem eu fui eu sei de cor. tá na pele, no cheiro, no suor. tá fresco ainda. 09h41


saudades. que faço com essa saudade? diz!









vamos, pra frente, em silêncio para não acordar a cidade. engole essa cambada aí e siga em frente sem olhar para trás e sem dar trela para essa falação feminina toda, essa babaquice que te tira da cama e te faz escrever no escuro.
quinta 4 março 9h45 - frio

entre o escrever e o te esquecer: sílabas.

c,r,v,q

eu não quero o seu, eu quero o meu. mas talvez o meu esteja em nós.20h54











vai minha tristeza e diz a ele que sem ele a vida é sem graça, que chove sem parar, que a geladeira quebrou, que falta água quente no chuveiro, coberta no pé e coragem para seguir em frente
quinta 4 março 21h00 - frente fria